sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ser "sem afecto"


Fiquei nu quando partiste.
Disseste simplesmente – “Não te quero mais” e sumis-te na noite. Doeu muito...
Abriu-se a ferida antiga, como antigo era o nosso modo de amar - sofrido, sacrificado, vagueando nas águas mornas do hábito e da rotina consentidas.
Nunca te amei com a alma. Nunca senti vontade de gritar o teu nome ao vento, desenhá-lo na areia da praia ou dedicar-te um simples verso.
Pergunto-me então, porque dói tanto ver-te fugir de mim como se um pária eu fosse.
E ao mesmo tempo que pergunto, a resposta chega célere e contundente. Desvelaste-me a alma e deste conta que não querias ser o meu remédio. Era uma tarefa hercúlea e tu eras tão frágil quanto eu.
Afinal fomos dois náufragos procurando um no outro a sua tábua redentora.
Ser “sem afecto” não tem cura, não é verdade?

Fernando Barnabé

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