segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Prece

Que eu seja Senhor um instrumento da tua vontade, na fé e na coragem, e que, na provação, me faças ver a luz.
Que eu possa servir-te com abnegação e firmeza de propósitos e que as minhas acções e pensamentos sejam o reflexo da tua sabedoria.
Fazei de mim Senhor um ser melhor, acreditando sempre que os teus desígnios são tão somente algo que eu devo aceitar.
Deixai que o vosso amor impregne o meu coração e que as minhas mãos sejam uma extensão das vossas, em doação, misericórdia e temperança.
Senhor, deixai-me seguir sem lamentações o caminho que me haveis destinado, e, se na porfia eu vacilar, redobrai a minha crença na imortalidade da alma e na tua infinita bondade.

Amém

FB

Julguei que nascia dos teus braços

Julguei que nascia dos teus braços, e as tuas mãos, murmúrios de vento, embalavam-me o choro, como se ele fosse o primeiro cântico da alma.

FB

Ó Alma Lusitana

Ó Alma Lusitana!

Não deixeis que se apague a chama imensa;
Que os mares venceu e arredondou o mundo;
Vingai os que por ti o sangue deram;
Acordai-nos deste sono tão profundo;

Cuidai que a vida agora sal não tem;
Porque dele nos roubam os algozes;
Ouvi o desespero aqui e além;
Tratai que se alevantem outras vozes.

FB

Falei com Jesus Menino

Falei com Jesus menino.
Estava triste e magoado com a ignorância dos homens.
Disse-me que não entendia porque celebrávamos
o Natal em seu nome se havia tantos meninos
e meninas que morriam todos os dias sem uma côdea de pão
e os homens pereciam em guerras intermináveis, carregando o ódio e a vingança nos seus corações.

E num tom grave e sério foi dizendo:

-“Celebrarei convosco, quando transformarem as bombas em pão…quando em redor das vossas lautas mesas pelo menos esteja alguém que não tenha tecto; quando os vossos pinheirinhos estúpidos reluzentes e as vossas melodias hipócritas entorpecentes derem lugar à consciência de que, num qualquer lugar do planeta, alguém precisa de um sinal de esperança, de um sopro de alento, de uma chama que aqueça a sua alma fria!"

FB

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um dia meu amor...

Abraça-me...quero sentir o teu pulsar;
Navega-me... como se eu fosse mar por descobrir;
Prova do meu sal;
Um dia meu amor, os dois vamos florir.

Fernando Barnabé

segunda-feira, 22 de março de 2010

As fobias



A ansiedade tem uma função adaptativa. Quando estamos perante um novo desafio, quando entramos pela primeira vez na escola, quando vamos a uma entrevista para um emprego, quando temos que falar em público, experimentamos alguma ansiedade. Ela tem, como dizia uma função adaptativa porque nos capacita a mobilizar recursos cognitivos (a linguagem, a percepção, a memória, a atenção) e fisiológicos, através da activação de determinadas glândulas, e do nosso sistema nervoso autónomo.

Desta forma, podemos dar respostas mais ou menos adaptadas às solicitações do quotidiano. No entanto, quando estamos expostos durante longos períodos de tempo a emoções negativas, geradoras de ansiedade, de medo, de raiva ou de tristeza, mobilizamos com maior frequência os nossos recursos cognitivos e fisiológicos e, como consequência, as suas funções tendem a ficar comprometidas. Gera-se uma maior excitabilidade e as respostas aos estímulos tornam-se muito menos eficazes e até mesmo desadaptativas.

Podem então surgir reações psicofisiológicas, ou psicossomáticas, resultantes de uma prolongada exposição da pessoa a situações geradoras de ansiedade.

As fobias estão classificadas como perturbações de ansiedade conforme expressa o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV)

A palavra fobia, deriva do grego phobos, deusa grega do medo, e significa terror, pânico. A imagem da deusa era utilizada até pelos guerreiros nas suas armas, a fim de aterrorizar os inimigos, tal era a sua fealdade. A fobia é caracterizada por um medo irracional face a um objecto específico ou situação que objectivamente não apresenta qualquer perigo.

A pessoa com esta perturbação tem consciência que o seu medo é irracional e que as emoções que o estímulo fóbico despoleta são em regra exageradas.

Como o estímulo desencadeia reacções desagradáveis para a pessoa ela tenta utilizar um mecanismo de defesa que lhe parece mais apropriado - o evitamento.

Evitar as situações geradoras de ansiedade, podem no entanto, limitar consideravelmente a nossa rotina diária. A pessoa, sente-se em regra impotente para controlar a ansiedade, podendo recorrer, nalguns casos, à utilização excessiva de álcool, tabaco ou de outras substâncias nocivas para a saúde. No entanto, pessoas há, que tentam negar a sua ansiedade apresentando atitudes e comportamentos contra-fóbicos, como por exemplo, alguns amantes dos desportos radicais.

Outras regozigam-se, porque escondem com alguma eficácia as suas emoções, mas estas apresentam, em regra, uma grande excitabilidade psicofisiológica, podendo com o tempo, comprometê-la seriamente.

Na agorafobia - medo irracional de espaços abertos dos quais a pessoa pode não vir a escapar, sobretudo se não encontrar ninguém que a possa ajudar no caso de um ataque de pânico, o comportamento mais comum, passa por evitar esses lugares, ou enfrentá-los com alguma dificuldade quando acompanhados por alguém da sua confiança que possa conter a sua ansiedade.

Na fobia social, o indivíduo sente um medo irracional face ao contacto com outras pessoas. A ansiedade gerada por ter que falar em público é enorme, por medo do rídiculo ou por medo de ser escrutinada. Saber que os outros podem eventualmente perceber o seu estado de ansiedade, faz com que evitem comer em restaurantes ou frequentar outros locais públicos.

Assim, evitam falar com desconhecidos e apresentam até dificuldades nas suas relações
afectivas, por consequência tendem ao isolamento, limitando desse modo a expressão dos seus afectos e emoções. Normalmente a auto estima e a auto confiança destas pessoas é baixa.

Em regra as pessoas com Personalidade Evitante têm maior probabilidade de vir a sofrer desta perturbação.

Nas fobias específicas o medo é canalizado para objectos, animais ou situações específicas indutores de ansiedade, como por exemplo os elevadores, as cobras, os ratos, o sangue, as agulhas, as alturas, etc. Pensar nestas situações pode ser suficiente para que seja despoletado um ataque de pânico.

Os ataques de pânico são episódios que têm uma duração de 20 a 30 minutos, por vezes um pouco mais, são acompanhados por pensamentos de catástrofe eminente, de morte, com reacções somáticas clinicamente significativas: ansiedade excessiva, estado confusional, taquicardia, sensação de opressão no peito, sedurese, boca seca, formigeiros, parestesias. A pessoa pode até pensar que vai ficar louca ou que algo não está bem consigo a nível orgânico.

Os ataques de pânico podem ser expontâneos, não dependendo portanto, de nenhum estímulo ansiogénico; podem ser situacionais, quando a pessoa está exposta a um estímulo fóbico, ou situacionalmente prováveis, quando a pessoa com algum sofrimento enfrenta um estímulo fóbico, surgindo o ataque de pânico à posteriori.

A ocorrência e a frequência dos ataques de pânico é variável. Há pessoas que podem ter vários ataques por dia, e só voltarem a ter passado um mês. Outras têm um ou mais ataques por semana.

É inevitável que a pessoa com fobia e ataque de pânico esteja quase permanentemente preocupada com o próximo ataque, daí que, se essa preocupação se manifestar durante pelo menos um mês, ela vai constituir uma perturbação de pânico.


AS CAUSAS

Até meados do século XX, pensava-se que as causas desta perturbação eram apenas psicológicas, devido a conflitos intrapsíquicos não resolvidos, sobretudo na infância, hoje está provado, através de estudos efectuados, que uma maior produção de substâncias neuroquímicas existentes no cérebro, como a serotonina e a dopamina podem provocar perturbações de ansiedade. Estudos comprovaram ainda que existem factores hereditários em jogo.

Os familiares biológicos em primeiro grau de pessoas com fobia ou perturbação de pânico têm maior probabilidade de contrair a perturbação. Estudos com gémeos também evidenciaram esses factores hereditários.


O TRATAMENTO

Podem utilizar-se os inibidores selectivos de recaptação da serotonina e os inibidores da enzima monoaminooxidase (IMAO) e alguns tipos de terapia, como a terapia Cognitivo-Comportamental que incide sobretudo sobre o sintoma e a sua remissão e as terapias de base psicodinâmica, que incidem sobre as causas, estas, no entanto, podem ser mais morosas.

A terapia comportamental utiliza a técnica denominada dessensibilização sistemática. Depois da aprendizagem de algumas técnicas de relaxamento, o paciente é exposto a estímulos ansiogénicos de forma gradativa, o paciente vai relatando ao terapeuta o que está a sentir à medida que os estímulos lhe são apresentados (normalmente utilizam-se diapositivos).

Quando a ansiedade produz mau estar significativo, o paciente informa o terapeuta levantando por exemplo o braço e este suprime a exposição e volta às técnicas de relaxamento. O processo vai decorrendo até que a ansiedade seja suprimida ou possa ser gerida com alguma eficácia pelo paciente.

As técnicas de biofeedback, são também utilizadas. Neste caso, existem instrumentos que permitem a monitorização pelo terapeuta, quer do ritmo cardíaco, quer de doutras funções fisiológicas.

FB

domingo, 21 de março de 2010

Tenho medo...

Tenho medo que me faltem os abraços,
Que os dias passem iguais, sem sal, sem cor,
Tenho medo das sombras, dos meus passos,
De perder-me e perder o meu amor.

Tenho medo de mim por ser cativo
De um desejo maior que desconheço,
Tenho medo que Ele seja só castigo
E de mim não cuide se o mereço.

Ah! Se Tu me viesses consolar
Deste temor que carrego cada dia,
E a minha alma em Ti acreditar;

Que ter medo não é coisa fatal,
É sonho breve, instante de agonia,
Que acontece a quem é imortal!

Fernando Barnabé


terça-feira, 16 de março de 2010

Para lá de mim


Para lá de mim, só o orvalho das estrelas
e a ternura; a ternura convexa de um ventre pulsante.

Para lá de mim, só o sangue das flores,
o alvor de um olhar e a alma do sonho.

Para lá de mim, só o canto,
a melodia do vento e a fome voraz dos ribeiros.

Para lá de mim, só o espanto,
um sorriso de criança e o voo sereno do coração dos pássaros.


Fernando Barnabé

quinta-feira, 11 de março de 2010

Não mates o amor…

Não mates o amor...di-lo.
Di-lo ao vento, grita-o pelos campos ou deixa que a pomba leve a tua mensagem, se ainda tens coragem para voar(amar).
O amor deve dizer-se...
O amor deve cantar-se...
Mesmo que não encontre eco...
Mesmo que a pomba se esgote na viagem e não regresse mais ao seu beiral.


Fernando Barnabé

quarta-feira, 10 de março de 2010

À espera...



Se eu pudesse apagar de uma assentada
As feridas profundas do viver
Sentiria a alma iluminada
E esta dor que trago esmorecer

Mas não fui eu que escolhi esta jornada
Alguém a fez por mim acontecer
E se alguma vez pensei que a dominava
Outra vontade se impunha ao meu querer

Olha p´ra mim oh ser supremo!
Tu que és sal, és sol e vil veneno
E dá-me um só sinal; subtil, fugaz

De que no jogo do deve e do haver
Eu possa nesta vida entrever
Que o saldo que me resta é luz, é paz!

Fernando Barnabé

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher/mãe



Hoje comemoramos o dia Internacional da Mulher; queria apenas deixar aqui uma homenagem a todas as mulheres e mães deste nosso lar que teimamos em não cuidar devidamente.



Ainda me lembro do teu colo;

Ninho de braços feito;

Donde cair não tinha medo.

Que fortes eram os teus braços;

Apesar da fome que passaste.

De onde te vinha a força mulher coragem;

Tu que nem menina foste?

Cresces-te à pressa para que eu vivesse;

Mas deste-me o teu coração de criança;

Coração verdade, que todos os dias me alimenta.


FBarnabé

Ainda o teste de Rorschach…



No post anterior, aquando da abordagem ao teste de Rorschach, referi que os métodos projectivos utilizados em Psicologia, têm como finalidade, apreender a realidade psicológica do sujeito, isto é o modo como ele vive e como se pensa.

Mas penso ser oportuno considerar aqui, as questões relativas à objectividade/subjectividade quando, como profissionais, utilizamos determinados testes.

Sabemos que psicólogos há, que rejeitam as técnicas projectivas por considerarem que estas não são objectivas e, como tal, utilizam as técnicas psicométricas. No entanto podemos afirmar que a pessoa sujeita a estas testes, como que desaparecem por detrás da quantificação, quer dizer, são reduzidas a um número. Dou-vos um exemplo; será importante e determinante que um determinado sujeito obtenha um resultado óptimo num teste de memória se o indivíduo utiliza essa sua competência de uma forma defensiva?

A psicometria está relacionada com os instrumentos de medida objectiva. A subjectividade, por seu lado, é baseada na intuição e, por vezes, com desprezo pelas técnicas objectivas, o que também é condenável.

A intuição é um dom fundamental, que emana do inconsciente, mas não nos podemos focalizar apenas na intuição, devemos ter também em consideração os métodos objectivos, e, para que nos possamos orientar correctamente, devemos ter uma teoria, um modelo que sustente o nosso pensamento e uma metodologia e instrumentos compatíveis entre si. Não é possível termos como modelo uma teoria psicanalítica e trabalharmos com uma metodologia comportamentalista.

A verdadeira objectividade, não existe por si só, existem sim, indicadores. Toda a realidade externa é investida à luz da nossa própria história e é aqui que se insere as técnicas de Rorschach.

A subjectividade baseia-se na interpretação e corre o risco de se arrastar por movimentos projectivos por parte do analista. A interpretação tem pois, que ser sustentada por provas, sob pena de o sujeito se tornar uma “colónia do nosso pensamento”.

O trabalho psicológico está muito enraizado na experiência psicopatológica; há uma grande necessidade de concluir e de apresentar resultados a todo o custo à luz da Psicopatologia, mesmo por vezes não percebendo em profundidade um determinado caso. Isto é deontologicamente incorrecto; nestes casos devemos, quando dúvidas existem, recorrer a colegas, a fim de podermos confrontar ideias e aclararmos o que à partida se nos afigura pouco revelador.

É pois importante perceber no Rorschach, o encadeamento das respostas do paciente, saber quais são os seus processos de pensamento, as associações que em regra utiliza; as respostas a estas questões é que nos leva a conhecer o sujeito e a procurar a sua individualidade.

Examinar as modalidades dominantes da personalidade do sujeito numa perspectiva de adaptação à realidade externa, é pois, uma função determinante do analista que deve estar despido de pré-conceitos, a fim de não incorrer em julgamentos prévios.

Devemos perspectivar-nos no sentido do “não saber”, para que não confirmemos uma ideia pré-estabelecida.

Não podemos deixar que a “colonização do sujeito” alimente a omnipotência do analista. É que uma espécie de novo riquismo intelectual pode tornar perigosa toda e qualquer interpretação.

Fernando Barnabé

sexta-feira, 5 de março de 2010

Os testes projectivos - o Rorschach (I)



Dando seguimento às matérias anteriores sobre o exame psicológico e a anmnese, gostaria de vos deixar aqui, algumas impressões, sobre os testes utilizados mais vulgarmente em Psicologia Clínica, destacando as técnicas projectivas, utilizadas pelos psicólogos como coadjuvantes da Entrevista Clínica, que não é mais do que uma súmula de todos os aspectos relevantes que ele foi capaz de recolher do sujeito, quer através da observação quer através de atenta escuta.

Os testes projectivos baseiam-se num mecanismo psicológico denominado “projecção”. Parte-se do princípio que todos nós, perante um desenho, uma mancha, um borrão, temos algo a dizer sobre ele, isto é, interpretamos o material dado, conforme a nossa estrutura psicológica. Estamos, com esse movimento, a projectar-nos, a dar indicações preciosas ao psicólogo sobre a nossa estrutura da personalidade; personalidade que deve ser vista como uma unidade integrativa.

Um dos testes projectivos mais utilizados na clínica é sem dúvida o teste de Rorschach, psiquiatra suíço que o desenvolveu e aplicou em centenas de sujeitos. O teste consiste em dar possíveis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta simétricas em que a partir das respostas obtidas é possível obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo; não esqueçamos porém, que as qualidades psicológicas do testador têm importância nos resultados. Em suma, o processo de resposta produz-se num contexto em que a interacção e a intersubjectividade estão sempre presentes.

Quando utilizamos o conceito “projecção” ele surge sempre associado à percepção. O estímulo externo é a mancha que tem características perceptivas precisas mas ambíguas. Estas características vão obrigar o sujeito a estabelecer um conjunto de estratégias onde a percepção ocupa um lugar central. Na presença do cartão, o sujeito movimenta-se entre o real e o imaginário, entre o objectivo e o subjectivo.

Os dez cartões da prova de Rorschach, têm características singulares no campo perceptivo, pelo seu carácter unitário ou disperso, sendo susceptíveis de uma criação simbólica centrada em dois eixos: a representação de si e a representação da relação. É justamente pela forma como o sujeito organiza a história em torno das manchas impressas nos cartões, que ele revela a sua problemática fundamental. Percepção e projecção surgem então muito relacionadas, participando na delimitação do MUNDO EXTERNO e INTERNO do sujeito e na sua REPRESENTAÇÃO.

O processo projectivo leva a que só sejam investidas pelo sujeito certas excitações que reactivam traços mnésicos individuais; há uma selecção de estímulos que são integrados no seu sistema pessoal.

Cada um de nós filtra a realidade diferentemente e fá-lo de acordo com motivações pessoais. É a realidade externa, aquilo que percebemos, que vem reactivar os traços mnésicos que referi acima, dando lugar posteriormente ao respectivo movimento projectivo. O sujeito tem que mobilizar-se para ordenar as percepções externas e internas. É possível que o psicólogo assista a oscilações, movimentos subtis entre a percepção e a projecção; há como que uma negociação entre o dentro e o fora. O produto expresso pelo sujeito mostra igualmente uma ressonância fantasmática. A realidade externa, colorida com essa ressonância fantasmática gera um equilíbrio entre o dentro e o fora.

É através do estímulo (cartão) que o sujeito mergulha do processo primário para o processo secundário (o pensamento através da palavra), sendo que o imaginário é aqui extremamente importante. No teste é dito ao sujeito que não existem respostas certas nem erradas e que tem toda a liberdade quanto ao número de respostas a dar (normalmente dá duas respostas). Essas respostas tem um suporte perceptivo, mas espera-se que o sujeito as enriqueça com a sua capacidade de sonhar de imaginar, de ser criativo.

A cotação do teste é um processo um pouco moroso, obedecendo a algumas regras, (que dada a sua complexidade não vou aqui referir) que não podem deixar de ser consideradas, de forma a que a subjectividade do psicólogo, possa, na medida do possível, não interferir significativamente no diagnóstico.

* A imagem associada não representa um cartão do teste de Rorschach

Fernando Barnabé

terça-feira, 2 de março de 2010

Mal me quer...Bem me quer



Saiu de casa com a raiva estampada no rosto. Enquanto caminhava, repousava o olhar nas pedras da rua, pensando de si para si que merecia melhor sorte. Aquela casa não era mais a sua casa, aliás nunca o fora. O passado era o seu presente e o futuro vago e incerto. Felizardo não esquecia. Pousou o corpo titubeante num banco de jardim olhando para o alto, as estrelas não lhe respondiam e há muito que a sua se apagara. Soltou um grito lancinante, misto de desespero e de impotência e ficou mudo de repente esperando alguma resposta. Ninguém o escutara.

Conhecia o ruído vindo da porta. Quase todas as noites o esperava. Enquanto não o ouvia ia antecipando a dor. Felizardo, pequeno corpo a afundar-se no colchão, pressentia já os passos incertos que carregavam a culpa e a vergonha. Eram como
vergastas que a alma aceitava chorando, no entanto, os seus olhos, raramente o deixavam perceber. Vivos e penetrantes, fugiam a qualquer olhar observador, talvez com medo que descobrissem por detrás do seu brilho a culpa e a vergonha que não eram suas.

A chave depois de várias tentativas encontrava a ranhura, a porta abria-se e Felizardo parecia mirrar por debaixo dos lençóis. Não precisava olhar, já sabia quem entrara, donde vinha e como vinha. As cenas que se seguiriam não lhe eram estranhas; sempre iguais no drama, pareciam de um filme, mas este era real, demasiado real para ser acompanhado com pipocas e coca cola. Tristão, envolto em vapores etílicos tentava fechar a porta de mansinho, na inocência de que, com um pouco de sorte, não se faria notar. Amargurada, sentada na cama, na sua postura de vítima-carrasco, há muito que o pressentira, e a raiva, que durante a espera armazenara, explodia sobre Tristão queimando-o todo por dentro, muito mais do que o bagaço.

Era o preço a pagar por não ter sido criança. Aos treze já trabalhava para sustentar quatro bocas. Era dura a faina do mar, mas mais dura teria sido a pressa com que o fizeram crescer.

Agora era vítima de uma mulher-mãe que não lhe perdoava os deslizes, que o tratava como uma criança mal comportada sem perceber a impotência de alguém que só pedia compreensão.

Regressava a casa alegre, meio entorpecido é certo, mas alegre, trazendo consigo o sono e o cansaço. Parecia um menino grande com medo que a mulher-mãe lhe ralhasse. - Amaldiçoado, desgraçado, bandido, não tens vergonha nessa cara amaldiçoaaaado. Outra vez o bagacinho, não é verdade. Ah! grande desgraçado. Tristão levantou o braço, os lábios crispados e os olhos em alvo faziam antever um massacre.
Subitamente estacou como se uma voz interior lhe segredasse a calma. Olhava-a em silêncio, um pouco perdido, como se lhe pedisse desculpa pela traquinice; em troca, recebia mais uma sova de chorrilhos e um açoite de lágrimas, tão grande, que se deitava de costas p’ra ela engolindo a dor por mais uma ou duas horas, o tempo de duração da
ladainha.

Tristão não queria magoá-la, ela era frágil e ele uma muralha sem ameias nem guardas. Depois adormecia. Toda uma noite sem sonhos.

Tristão, não voltaria a beber nos próximos dias e Amargurada não teria oportunidade de descarregar sobre ele toda a frustração de uma união a que não soube escapar.

Os dias que se seguiam à bebedeira eram de paz, uma paz podre, de silêncios frios e cavados acompanhados dos olhares inquisidores de Amargurada. Era nesse tempo de tréguas que Felizardo mais sentia avolumar-se sobre os ombros o peso de duas vidas que não eram. Sentia que era fruto do desamor e joguete das frustrações de dois seres imaturos e insensíveis.

Quantas vezes, quase sempre às refeições, não caíram sobre si as mãos grossas e calejadas do pai-mandado só porque alguém tinha que pagar com lágrimas aquela “paz”? Quantas vezes não saíra correndo da mesa e se largava na cama, à espera de que alguém o viesse confortar. Quantas vezes desejou que a mulher-mãe e o pai-mandado fossem tão somente mãe e pai. Mas o pior de tudo, era quando na sua dor desejava apenas não desejar.

Amargurada toda vestida de branco entrava na igreja. Cá fora a chuva fustigava a calçada impiedosamente. “Casamento molhado, casamento abençoado” diz o povo e sem razão. Dias depois o arrependimento, o desencanto, a revolta amordaçada, a tristeza e por fim a resignação. Beijar Tristão, ter relações com Tristão, lavar a roupa a Tristão, passar a ferro a roupa de Tristão, fazer comer p’ra Tristão.

Amargurada não amava Tristão, soube-o sempre. Aquele que amava fora afastado pela razão. A segurança que a previsibilidade de carácter de Tristão auferia fê-la decidir. Amargurada tinha agora por companheira uma ferida funda e implacável, dádiva de um sim numa manhã chuvosa. Felizardo sentia-se doente, muito doente; o corpo, parecia definhar dia após dia, e os olhos, que outrora reflectiam a luz do seu imaginário, carregavam agora anos de tristeza. Sentado no banco de jardim, olhava ainda as estrelas.

Cansado da espera, resolveu tomar o caminho de casa. O seu quarto era um arremedo de refúgio, doze metros quadrados muitas vezes percorridos num vaivém de passos sincopados. Não, não era um refúgio, era mais uma prisão, onde secretamente planeava a fuga. Abriu a janela e contemplou uma vez mais as estrelas, sabia que só elas o poderiam curar.

Tinha já os cabelos pintados p’lo tempo apesar de ainda jovem. Tristão era um homem alto e magro, uma magreza que escondia uma vitalidade e força descomunais. O andar emprestara-o ao filho, e o porte era rígido, quase austero. Tristão tinha por costume visitar todas as “capelinhas”. Ali sentia-se melhor do que em casa. Com dois ou três copos a língua soltava-se, o corpo adquiria uma moleza natural e os olhos sorriam a bom sorrir. Tristão adorava aquelas capelinhas e o que elas tinham para oferecer. Era o seu lugar de culto, onde adormecia o corpo e a alma.

Felizardo não conseguia adormecer, aquela ideia insistia tanto, tanto, que de bom grado a cortaria pela raiz. Mas ela sobrepunha-se à sua vontade, era forte e persistente, qual erva daninha devastando-lhe o corpo e a alma. Sentou-se na cama derrotado pela arma que ele próprio fabricara. Por vezes dava-lhe tréguas, como se tivesse sido acalmada por qualquer génio que desconhecia, outras vezes surgia como vaga imensa, inundando-o de angústia e desespero. Felizardo era um barco à deriva que já só queria naufragar.
- Vai ver onde está o teu pai e chama-o para vir jantar. Gritou-lhe Amargurada, amarga e fria.

Felizardo nos seus calções puxados por suspensórios entristecia.
Não entrava nas tabernas, ficava cá fora esperando pacientemente que o olhar do pai se fixasse no seu. A espera doía, doía muito e Felizardo acabava por entrar. Puxava-lhe
pelo braço. – Pai estamos à tua espera p’ra jantar. - Diz à mãe que eu já vou; não demoro nada.

Felizardo sabia que era mentira, ele iria demorar. Jantaria com Amargurada, sozinho com os seus pensamentos. Já se via deitado, mãos frias e húmidas, coração apertado batendo a descompasso. Ruído na porta, o pai chegava. Felizardo morria mais um pouco…

Dias antes do casamento Amargurada saíra às compras com o pai. Na cidade escolhia os sapatos que levaria para o altar. – Queria aqueles pai, está a ver, aqueles brancos, são tão bonitos. Os olhos reluzentes encaravam em simultâneo o pai e os sapatos. – São vinte e cinco escudos, pai. Ontem a faina da pesca foi boa, não foi pai? Compramos? gostava tanto! O pai não lhe respondeu. Ao invés entrou com um ar decidido na loja. – Minha senhora, quero aqueles sapatos brancos que estão ali ao canto da montra. Pagou; tinham custado quinze escudos. Amargurada engoliu as lágrimas e uma raiva súbita tomou-lhe todo o ser. Odiava-o.

Foram viver num quarto assim que chegaram à cidade. Tristão deixara a faina do mar. Procurava outras paragens e nelas um porto seguro onde se abrigasse do ritmo infiel das ondas, do destempero das noites, e do queixume das redes. A mudança não foi dolorosa.

Passava os dias a namorar o mar e os barcos à espera da aventura de navegar. O namoro deu lugar ao compromisso e o compromisso ao salário. Tristão podia pagar o quarto e
apagar da memória a tristeza dos dias, em que, Amargurada, com Felizardo nos braços, derramava no seu ombro a angústia da espera. Lembrava-se ainda de, com o pouco que ganhara, ver correr Amargurada na ânsia de aliviar as dores do seu frágil rebento. Corria para outro cais. A espera, sempre a espera. Depois era dar-lhe os medicamentos na pressa do milagre; lembrava-se...Felizardo sobreviveu.

Amargurada esperava-o sentada num banco do jardim. Felizardo, descia a escadaria da escola, pulando os degraus quatro a quatro com a leveza de uma pena. Veloz, correu até junto de Amargurada.
- O que trazes hoje mãe? Amargurada retirou de um saco uma marmita ainda quente. - Trago-te galinha com esparguete, uma sopinha de espinafres e uma bananinha. Felizardo comia, devorava. Depois, olhava-a em silêncio. Depois, falava-lhe em
silêncio: - És a única mãe que vem trazer o almoço à escola.
Queria agradecer-lhe, mas não tinha coragem, queria abraçá-la mas faltava-lhe a coragem, queria beijá-la, mas não tinha ... Era isso, faltava-lhe fazer soltar as palavras, faltava-lhe dizer que a amava, faltava-lhe dizer que ela o salvara. Faltava tanta coisa...

Os dias de Verão eram os melhores dias. Ainda agora os recordava com alguma nostalgia. Mas a ideia com que ficava era a de que já não se faziam dias como aqueles.

Os verões da sua juventude, tinham um sabor e cheiro característicos, sabiam a mar e a vento, um vento bom, de afago cálido, que não tinha pressa em demorar-se. Ficava por
todo o Verão distribuindo aromas e fazendo as delícias dos mais velhos, que sentados nos poiais das casas caiadas, sussurravam confidências num ritmo letárgico imposto pelo Sueste. Naquela altura não se compravam férias, não havia, nem pizzas, nem hamburgers, nem coca-cola, nem carros nem yates, as pessoas estavam vivas e aquela terra, o mar, a brisa, o voo da gaivota, o sabor do pão, o tlin tlão do sino da igreja, o murmúrio das ondas eram de verdade. Felizardo sorria.

O sentimento inquietante de que não passava de um fardo causava-lhe um desconforto insidioso. Felizardo entrava na idade adulta, tinha deixado os estudos, um curso penoso que no entanto fez por acabar com aproveitamento. Tinham passado três longos anos sem que o esforço a que se submetera por causa do dito tivesse qualquer aplicabilidade. - Chulo. Gritava-lhe Amargurada. Há três anos que não fazes nada. É só comer e dormir. Vê lá se vais procurar trabalho, meu chulo, ou pensas que isto é algum hotel?

Felizardo calava uma revolta tamanho do mundo, fora ela quem lhe escolhera o famigerado curso, apesar das advertências da directora da escola. – O seu filho, D. Amargurada, tem muito jeito para letras, é um rapaz com sensibilidade para as línguas.
Era bom que fosse estudar para o liceu.

Amargurada não sabia o que era isso de letras, o importante era manter o espírito de rebanho, um curso técnico pois então, lá na rua não se falava noutra coisa e diziam que dava bom dinheiro.

Tinham passado dois longos dias sem que Felizardo desse notícias. Nunca tal tinha acontecido. Amargurada, lívida, chorava. Tristão aflito com a aflição dela procurava transmitir-lhe alguma calma, mas, até ele, a quem nunca se vira uma lágrima, procurava com esforço disfarçar um soluço. - Ele andava estranho, eu bem te dizia que ele não estava bem. Andava a comer mal, de manhã para se levantar era um castigo, mal nos falava... Vou ligar para os hospitais, mais uma vez. O que será feito dele, do meu rico filho... E chorava um choro que parecia habitar qualquer caverna funda. Um choro arrancado de um peito que não podia ser o seu, tamanha era a dor. Tristão, abraçava-a e chorava com ela.

Tinha-a conhecido há dois dias, enquanto vagueava em silêncio pela cidade, perdido em pensamentos. Sentara-se sem vontade numa esplanada. As pessoas saíam à pressa dos empregos, passando por ele numa vertigem de atropelo. Podia vê-las, mas não as olhava. Causava-lhe nauseas aquela pressa e até o coração parecia bater ao ritmo do galope dos passos - Tens um cigarro? Felizardo não respondeu, porque absorto no nada, há muito que dali se desprendera.

Uma mão fina, pousou-lhe no ombro, Felizardo virou-se.
- Tens um cigarro? - Não fumo, mas ali em frente tem uma máquina, respondeu-lhe com secura. Ela levantou-se de mansinho, como se fizesse um esforço para não cair. Lançou-lhe um sorriso que mais parecia um esgar e dirigiu-se à máquina. Ele ficou a observá-la, absorto na sua graciosidade. Era alta e magra, aparentando ter pouco mais que vinte anos, pele clara e bem tratada, olhos azuis cintilantes, provocadores. Era uma menina de bem, daquelas que passam a vida a gastar o dinheiro dos pais, pensou.

Ela aproximou-se. – Incomodo-te? Ele não respondeu. – És sempre assim tão simpático? Eu não mordo, só procuro alguém com quem falar. Sempre é melhor do que andar a fazer asneiras.

A última frase deixou-o pensativo e curioso. – Não, não incomodas, senta-te.

Sentou-se, satisfeita pensando que quem não arrisca não petisca. Estiveram algum tempo em silêncio mirando-se mutuamente.
- Que asneiras? perguntou ele.
- Para além de simpático também és curioso, ironizou.
Ela aparentava boa disposição, mas não lhe parecia natural. Aquela euforia era estranha, quase roçando o bizarro. Felizardo não lhe respondeu. Olhou-a fixamente nos olhos. Ela já não sorria. Os olhos dela entristeciam, de cada vez que ele persistia em olhar. Alguma coisa se passava com ela porque de súbito uma lágrima rolou, e mais outra e outra ainda. Felizardo, sentiu-se mal. Há muito que sabia que o seu olhar inquisidor afastava e não unia. Apressou-se a rectificar.
- Desculpa, é que eu sou mesmo assim, um pouco bicho do mato.
- Não precisas desculpar-te, eu é que não estou bem... queria... queria morrer.

Felizardo, visivelmente embaraçado, pensou que aquilo não poderia estar a acontecer, ele era a única pessoa no mundo que desejava morrer, não poderia haver outra.
- Não chores... nem sei o teu nome.
- Inês... chamo-me Inês. Ela recolhia as lágrimas, enquanto ele num gesto rápido se levantou.
- Vem Inês, vamo-nos daqui.

Lentamente e em silêncio foram percorrendo o caminho que os levava ao rio. Ela deixou-se conduzir, ele gostou. Felizardo comprou dois bilhetes e juntos entraram no
barco que os levaria à outra margem. No convés, entre azuis, a cidade desaparecia lentamente. Inês adquiria uma inexplicável serenidade. - Ainda não sei como te chamas, perguntou ela.
- Felizardo, filho de Tristão e Amargurada, ao seu dispor, sorriu.
- Estás a brincar... parecem nomes de novela, gracejou.
Felizardo fixou o olhar na outra margem. Ela foi sentar-se num banco da popa, ele acompanhou-a.
- Sabes, nunca tinha feito esta travessia. Sinto-me bem aqui. É tão agradável esta aragem. Vendo afastar-se a cidade sinto uma espécie de alívio. É como se tivesse lá deixado…Felizardo olhou-a com ternura. Ela prosseguiu.
- Tenho medo do regresso. Se pudesse não voltava a casa nunca mais. Felizardo continuava a olhá-la num misto de curiosidade e impaciência, queria conhecer a sua história, mas manteve-se em silêncio.

Iam a meio da viagem. O rio a poente ruborescia e a cidade ao longe parecia-lhes possuída por um estranho encantamento.
Inês suspirou. - Ali onde o Sol se põe, à direita é onde eu moro. Vivo com os meus pais. Foram de férias, mas cada um para seu lado. Há já algum tempo que é assim. Dantes éramos tão unidos... Estão juntos, só para manter as aparências. Se te disser que passam dias sem que os veja possivelmente não acreditas. Ela é médica, sai de casa muito cedo e entra a altas horas da noite, às vezes não regressa, mas não é pelos seus afazeres. O meu pai passa a vida no estrangeiro, são os negócios... Felizardo redobrava de atenção, quis acariciar-lhe as mãos, mas pensou que seria desagradável dar-lhe a perceber a humidade das suas.

Ficaram lado a lado em silêncio.

A cidade desaparecera já, e o barco, vagarosamente, encurtava a distância que os separava da margem. - Sentes-te melhor agora? Perguntou Felizardo. - Sim, mas ainda estou sobre o efeito... sabes é que eu... Baixou a cabeça com ares de culpa desejando que ele tivesse percebido tudo. O medo da rejeição saía-lhe pelos poros, percebia-se pela postura, notava-se-lhe na voz. Felizardo lançou-lhe os braços, e ela, num suspiro longo e profundo, abraçou-o como um náufrago.

Assim ficaram durante algum tempo, corpo e alma em comunhão.

FB

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Congresso Celeste

Ontem, tive a honra de assistir pela primeira vez a um congresso celeste.

Discutiam-se questões relacionadas com o nosso planeta e o modo como nós humanos interpretávamos o firmamento. “A Terra e os céus, perspectivas e prospectivas” assim se denominava o tema central. Eu, postado no espaço a milhares de anos luz, assistia à comunicação de uma estrela anã de brilho intenso e vivaz, que do alto de um palanque, composto por resíduos estelares refulgentes, dizia alto e bom som, perante uma audiência incomensurável, que era já tempo de nos enviarem sinais inequívocos, de que a sua presença nos céus, não se limitava a preencher um espaço, antes representava, uma obra prima plena de sentido e significado, que todos os humanos, sem excepção, deveriam entender e integrar.

Saturno, de semblante pesado e carrancudo pediu a palavra, prontamente concedida, já que os seus ponderados conselhos eram sempre alvo de escuta atenta. Começou por dizer, que ainda era cedo, que nem todos os humanos estavam preparados para entender a qualidade e o propósito das energias celestes, e mais, como elas interferiam no ritmo do nosso existir, e, com a prudência que se lhe reconhecia, pediu uma maior reflexão e algum comedimento sobre o assunto.

Marte e Plutão explodiram em unissono contestando tamanha cautela e ali mesmo e de pronto reclamaram para si o cumprimento dos ditos sinais. Urano, nervoso e inquieto pediu a palavra, e, no seu jeito repentista e prepotente, deixou claro, que não era necessário bombardearem-nos com eventos calamitosos que sabia serem típicos dos congressistas precedentes. Segundo ele, bastava apenas um sinal, e esse, seria o próprio que o daria, sem aviso prévio, fulminante e cirúrgico.

Neptuno, que até então se mantivera longe da peleia, procurando, no seu jeito idealista e fraterno apaziguar a contenda, foi dizendo que há milhares de anos que os humanos entendiam a existência de relações entre o micro e o macro cosmos e logo ali foi devidamente apoiada pela Lua que se prontificou a dar o exemplo, de que, quando cheia, activava nos humanos irrefreáveis actos e sensações.

Dito isto, gerou-se uma confusão enorme na cúpula; as estrelas cadentes desprenderam-se assustadas do espaço com o clamor gerado e não fora a pronta actuação de Júpiter a pôr ordem nas hostes e ainda estariam agora em acesa discussão.

Júpiter era realmente uma sumidade; todos sem excepção, o respeitavam pelos seus altos ideais, espírito positivo e pelo seu afã em reunir consensos através da clareza das suas ideias; consideravam-no pois, o mais digno representante de todos os presentes no congresso. Calaram-se as vozes e fez-se um silêncio expectante no firmamento para dar espaço a tão ilustre orador.

- Meus amigos, disse Júpiter imponente - O que nos traz aqui hoje, é um assunto de extrema importância para os humanos. Dirijo-me àqueles, que de há muito entenderam, que somos entidades celestes que com eles coabitam e interagem em ciclos e ritmos que obedecem a vetustas e inexoráveis leis. A esses, devemos pedir, que prossigam com o seu trabalho sério e honesto de divulgação da razão do nosso existir. Aos outros, os cépticos e todos aqueles que desconhecem, ou não querem admitir que fazemos parte de um todo maior composto por energias sapientes em permanente interacção, pedimos o respeito pelo seu labor e pela sua urgência em fazer chegar mais longe esta verdade.

E prosseguindo: - Não são necessários sinais inequívocos, meus amigos…há milhares de anos que esses sinais lhes têm sido enviados; cabe-lhes progredir, mas, como sabemos, nem todos se encontram no mesmo patamar evolutivo. É preciso fé e esperança, a mesma que me tem acompanhado em todos os cenários da minha já longa existência. Esperemos pois que o seu despertar seja breve…

Todos reconheceram em uníssono o alcance das suas sábias palavras, e, foram tantas as ovações entusiásticas das celestes criaturas, que acordei estremunhado no chão da sala, vindo directamente do sofá onde por momentos deixara descansar o corpo.


Fernando Barnabé

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A anamnese


No seguimento do post referente à avaliação psicológica, queria falar-lhes sobre o conceito de anamnese em Psicologia Clínica. A anamnese significa – retorno ao passado e supõe uma teoria da reminiscência,(vários níveis de memória) da etiologia (causa)da perturbação e uma teoria da técnica de entrevista.

Podemos considerar a existência de três tipos fundamentais de anamnese - médico, psicanalítico e psicológico.

A anamnese de tipo médico é feita em bases simples e supõe que o paciente apresenta em memória acontecimentos importantes que vai progressivamente transmitindo; há aqui um procedimento que obedece a termos cronológicos e temáticos. Em regra pode existir um questionário prévio estabelecido e as causas da doença têm uma causalidade linear, isto quer dizer, que para qualquer sintoma existem antecedentes que necessitam de ser procurados. Existe portanto uma causa e um efeito e a entrevista toma a forma de um interrogatório que obedece a um plano pré estabelecido. É pois uma anamnese em que supõe-se que o paciente conhece todos os acontecimentos relevantes da sua existência.

A anamnese de tipo psicanalítico funciona em moldes completamente diferentes. A pessoa funciona por associação livre e não por interrogações formuladas. Um psicanalista clássico consegue apreender e intuir o passado da pessoa através da relação que com ela estabelece. Digamos que, um bom psicanalista, trabalha não numa causalidade linear mas numa causalidade circular.

Coloquemos este exemplo – um sujeito encontra-se em análise porque o pai morreu quando este tinha 12-13 anos. Este acontecimento, desejado no passado pelo paciente, irá colocá-lo perante um grande conflito. Ele poderá questionar-se: “Será que tenho a culpa da morte do meu pai?” Ele pode ter a sensação que o pai o abandonou, quando fala da sua infância à luz deste sentimento. Provavelmente este sujeito vai focalizar todos os acontecimentos da infância como abandonos, quando não foi isso que aconteceu de facto. É a este processo que chamamos causalidade circular, isto é, no universo psiquíco há uma causalidade circular mas não linear.

Numa psicanálise, não nos cingimos ao simples retorno do que foi recalcado nem apenas e só à construção de algo que faz parte do passado. O processo envolve uma reconstituição e uma construção que será tanto mais eficaz, quanto melhor for a relação com o psicanalista.

A anamnese em Psicologia, partilha um pouco dos métodos da medicina e da psicanálise. O psicólogo interessa-se pelas fases do desenvolvimento, mas também privilegia a causalidade circular. As entrevistas são semi directivas. O importante aqui, são os acontecimentos exteriores e a forma como foram vividos interiormente; o que importa na realidade, é aceder ao modo como a pessoa elaborou na fase adulta esses acontecimentos.

A anamnese supõe também uma teoria da reminiscência. O inconsciente possui representações que surgem à consciência nomeadamente através dos sonhos, dos actos falhados, dos sintomas. Nesta perspectiva, a teoria da reminiscência supõe que existem vários níveis de memória no inconsciente e que, na vida infantil mais precoce, os acontecimentos que vão construir o aparelho psíquico são constituídos por impressões que por sua vez criam traços reveladores de uma certa estrutura psíquica.

É também relevante aceder aos sonhos e à forma como os mecanismos de defesa foram erigidos; da sua análise podemos distinguir diferentes patologias. Na histeria, podemos constatar que há uma dissociação (separação do afecto da representação) os acontecimentos traumáticos são tratados como se não tivessem acontecido (amnésia lacunar). Na neurose obsessiva, o sintoma surge como uma fobia ou como uma compulsão. Na psicose, por exemplo, já são utilizados mecanismos de defesa mais primários, como a negação, a projecção ou a clivagem.

Num próximo post e dando continuidade à temática da avaliação psicológica, irei falar-vos da importância de alguns testes utilizados na prática clínica.

Fernando Barnabé

Para que servem as palavras?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Avaliação Psicológica



Quando alguém por contingências do seu percurso existencial procura um psicólogo, este, para além de tentar estabelecer uma relação empática e de confiança com a pessoa, aspecto fundamental na relação terapêutica, deve proceder, a fim de obter informação relevante acerca do seu funcionamento mental, a um Exame Psicológico, de modo a ajudá-la a superar essa fase crítica do viver.

O Exame Psicológico pressupõe uma situação relacional em que o técnico aplica os seus métodos psicológicos e as suas bases teóricas de forma a aceder à compreensão do sofrimento do paciente. Supõe sempre um pedido (implica uma ética) e uma relação especial, que lhe permite, em muito poucas sessões, formular hipóteses sobre uma determinada problemática pessoal que se encontrava latente.

Quando o pedido é feito pelo próprio implica um sinal de reconhecimento de que tem algum problema e que necessita de ajuda; mas, existem casos, em que são os familiares ou amigos que o convencem a marcar consulta; aqui a pessoa pode não admitir qualquer dificuldade mas que vem à consulta por incapacidade em resistir à pressão familiar ou de amigos. Acontece muitas vezes, por exemplo, com pessoas que abusam do consumo de bebidas alcoólicas, pela negação da sua dependência.


ETAPAS DO EXAME PSICOLÓGICO

Uma avaliação psicológica apresenta uma primeira parte que gira em torno da anamnese (história da pessoa), elaborada a partir da entrevista com o paciente ou com os pais (se o paciente for uma criança), através da observação directa. Esta fase é fundamental porque nos dará a possibilidade de construir uma hipótese sobre o funcionamento mental e sobre o sentido do sintoma do paciente. É pois, uma elaboração compreensiva que nos pode levar por vezes a contradições, pela existência de nuances e incertezas. Num segundo momento vamos utilizar, os testes, segundo as necessidades dependentes da hipótese e das conclusões de base.

A escolha dos testes deriva das dúvidas que podem surgir na anamnese. Se estamos, por exemplo, perante um problema de insucesso escolar, podemos utilizar uma WISC (teste que permite medir o coeficiente de inteligência e nós dá informação relevante sobre o funcionamento mental da criança) ou utilizar posteriormente um RCH (teste projectivo), se ainda subsistirem dúvidas sobre a natureza profunda da criança; é portanto um diagnóstico progressivo.

Posteriormente à aplicação destes testes, devemos emitir um diagnóstico, para em seguida formularmos um prognóstico (o que se nos oferece dizer sobre o estado de evolução do paciente) e emitimos um relatório caso nos seja solicitado. Na sua elaboração é necessário não cair na linguagem do “rótulo”, atribuindo um número, por exemplo ao Q.I. da pessoa. Toda a compreensão da estrutura mental de uma criança por exemplo, não se esgota no Q.I se tivermos em conta, por exemplo, que as crianças sobredotadas apresentam problemáticas que estão para além da sua inteligência.

O que está em jogo, portanto, são questões globais – cada pessoa é extremamente complexa e não a podemos analisar reduzindo-a a um número. Temos que tentar descobrir o seu mundo, não pensando apenas na vertente negativa do que se nos depara relativamente aos resultados que obtivemos, mas encará-los de um modo positivo, tentando encontrar a melhor forma de, em conjunto, resolvermos a sua problemática.

Podemos eventualmente ter de fazer mais do que uma entrevista, para assegurar-nos de algumas particularidades do desenvolvimento da pessoa que não ficaram completamente esclarecidas (em regra quatro ou mesmo cinco).

De uma maneira geral e considerando que é uma criança que vem à consulta acompanhada dos pais, devemos estruturar a sessão de forma a receber a mãe e a criança em primeiro lugar procurar um espaço de diálogo posterior com os pais, nunca negligenciando o diálogo com o progenitor do sexo masculino.

A criança deve ser levada muito a sério e deve sentir que tem o nosso apoio na resolução do seu problema. Do mesmo modo, devemos procurar estar em consonância com os pais, criando um clima isento de rivalidades, propício ao trabalho em conjunto. Uma avaliação psicológica pressupõe assim, um clima afectivo; na transmissão dos seus resultados, por exemplo, devemos estar com os pais e a criança num clima de confiança e de harmonia.

É necessário também assumir o bizarro da situação, quando o psicólogo, numa primeira consulta tem que brincar com a criança, mesmo sem a conhecer. A questão da “arte” em Psicologia, intimamente relacionada com o perfil do psicólogo, passa pela forma e pelo modo pelos quais este consegue impor limites, preservando a possibilidade de um entendimento progressivo.

No próximo post focarei os aspectos relacionados com a própria entrevista clínica em Psicologia e nos três tipos fundamentais de anamnese.

Fernando Barnabé

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Era tarde...

Era tarde e tu não chegavas...A sala era uma nuvem de fumo aflita.
Porque tardavas tanto? Porque não respondias às minhas mensagens repetidamente tolas?
Puxei por mais um cigarro. Queria consumir-me em desventura...
Nem as preces que entoava numa voz surda e oca me faziam acreditar...
Secava-me o coração e a boca; o corpo mirrava, à medida que a alma soçobrava ao turbilhão de pensamentos que me golpeavam o ser.
Desesperado saí à rua gritando o teu nome, mas ninguém respondia à chamada...
Sentia um suor frio escorrer-me pela face ao mesmo tempo que um fogo intenso parecia sacudir-me o peito e a garganta amordaçados pela angústia.
Voltei a casa e ao quarto onde deixaras alguns pertences; beijei-os a todos sofregamente, inebriado pelo perfume quente que deles se desprendia e chorei
de raiva e ciúme ao pensar que outro qualquer pudesse naquele momento
incendiar-te o corpo, alimentar-te a chama.
Deixei de respirar por momentos...Sufocava aflito na minha obsessiva visão,
quando senti que alguém me afagava o rosto e me bebia as lágrimas...
Só então pude ver no meu despertar o encanto dos teus lábios.

FB

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O meu sonho...

O meu sonho era descobrir contigo onde nascem os arco íris,
Onde se deita o sol na noite escura e como acorda p’la manhã.
O meu sonho era descobrir contigo porque só o sofrimento nos eleva em espírito
e nos agracia, apesar da tristeza que semeia nos corações;

O meu sonho era descobrir contigo que o amor é a verdade para além de todas as coisas e que o seu fruto pode ser um ventre pulsante, um sorriso, um olhar cúmplice, dois corpos enlaçados pela fúria dos sentidos, um despertar lânguido com cheiro a maresia.
O meu sonho era morrer contigo num abraço, abençoado pela espuma das ondas.

FB

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Não sei de onde vens…

Não sei de onde vens ou se algum dia chegarás,
Mas se vieres conta-me histórias;
histórias de amor, de heróis e heroínas
com regaços de pétalas e seios de âmbar,
com bocas sensuais e membros diáfanos das estátuas.
Histórias onde se respirem as palavras e se sorvam os olhares enamorados,
onde os corpos falem ao som do silêncio da noite
incendiando as almas e enxugando os prantos das mulheres e homens rejeitados.
E sobretudo fala-me de ti,
da tua história, a mais bela por certo, porque ela é tua,
e a entregas a mim como oferenda...
Fala-me dos encantos e desencantos da criança que trazes
contigo...Chora, grita e ri se quiseres...
Mostra-me a melodia que exala do teu corpo
para que eu descubra como ela faz bem ao meu.
E deixa-me que te cuide,
que te embale como te embalou tua mãe, ou, se preferires,
como as ondas do mar nas noites tórridas de Verão de Agosto.
Deixa que eu seja a tua morada, a tua brisa, o teu consolo
os teus olhos, o teu sangue a tua pele...
Deixa que tu sejas o meu caminho e eu a luz que o ilumine.

FB

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A homossexualidade e os seus mitos



As dificuldades quando falamos sobre sexualidade não só provocam um grande vazio de informação objectiva acerca do tema, como favorecem o surgimento de crenças erradas que se instalam no pensamento de algumas pessoas, interferindo na forma como desfrutam as suas práticas sexuais e por consequência na sua saúde sexual. Isto quer dizer, que a ausência de informação objectiva, é suplantada pela pseudo informação e pelos mitos. E é muitas vezes, com base nos mitos, que as pessoas se vão conformando com a ideia de como é ou deve ser a sexualidade.

Existem mitos que descrevem a sexualidade do homem, (o homem está sempre disposto e deseja levar a cabo interacções sexuais; todo o homem tem de saber como dar prazer a uma mulher, inclusivamente, desde a sua primeira relação, etc.) e mitos sobre a sexualidade da mulher (é imoral que qualquer mulher tenha a iniciativa nas relações sexuais; quando a mulher está menstruada não deve ter relações sexuais, etc) e mitos acerca da relação (sexo, ou relações sexuais querem dizer coito, tudo o resto são comportamentos substitutivos; numa relação sexual cada um conhece instintivamente o que o seu par pensa ou quer, etc).

Estes mitos e muitos outros têm estado e estão presentes na sexualidade ocidental e devem ser tarefa dos programas de educação para a saúde sexual tratar de os desmontar.

Um dos mitos mais arreigados na sociedade ocidental é que o sexo ou as relações sexuais são sinónimo de coito. Muitas pessoas ainda pensam que as actividades que não pressupõem o coito e que podem incluir o orgasmo, estão associadas aos comportamentos sexuais de carácter juvenil.

Cabe-nos reflectir acerca da importância que a virgindade tem tido na nossa cultura, sobretudo a das mulheres e como esta ainda rege a lei eclesiástica da nulidade matrimonial com base nela. No entanto, existem outros modelos ou formas de sexualidade que não se focalizam no coito.

a) Para muitas pessoas, homens e mulheres, os comportamentos sexuais alternativos ao coito são os que maior prazer proporcionam.

b) Muitas mulheres consideram as carícias não como uma actividade preliminar, mas como uma actividade importante e determinante. A estimulação táctil e não o coito, é para algumas delas o único procedimento para conseguir o orgasmo.

c) A relação homossexual feminina é uma relação, em geral, sem presença de penetração.

d) Nas relações homossexuais masculinas, a estimulação buco genital e manual dos parceiros são comportamentos mais frequentes que o coito anal.

Os dois últimos modelos sexuais destacados no ponto anterior são o mote para aprofundar um tema habitualmente carregado de estereótipos e desconhecimento: a homossexualidade. Convém no entanto dar ênfase a alguma terminologia antes de abordá-la, já que é muito comum que se confunda a homossexualidade com o travestismo ou com os problemas de identidade sexual.

CONCEITOS GERAIS DE HOMOSSEXUALIDADE

- ORIENTAÇÃO SEXUAL
A orientação sexual refere-se às preferências sexuais de um indivíduo. O desejo sexual pode orientar-se para pessoas do sexo oposto (orientação heterossexual), ou para pessoas do mesmo sexo (orientação homossexual) ou ainda para ambos os sexos (orientação bissexual).

- A HOMOSSEXUALIDADE COMO TERMO
O termo homossexualidade foi criado em 1869 por Maria Benkert, médica húngara, para definir as pessoas que tinham uma orientação sexual face a outras do mesmo sexo. Estas pessoas não tinham uma identidade sexual anómala, pelo contrário, tal como as pessoas heterossexuais se sentem firmemente homens ou mulheres, as suas preferências ou desejos inclinam-se para pessoas do mesmo sexo.

- GAY
A palavra gay tem o significado de pessoa alegra, divertida e vital. Durante um tempo o termo foi utilizado como contra senha entre os próprios homossexuais. O termo é aplicado tanto a homens como a mulheres apesar de ser associado quase exclusivamente a homens, aplicando-se o termo lésbica, quando nos referimos às mulheres.

- HOMOFOBIA
Em 1972, o psiquiatra George Weinberg denominou homofobia aos prejuízos anti homossexuais de indivíduos ou sociedades. A homofobia foi condenada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em 1981 e pelo Conselho da Europa em 1984.

- OUTROS CONCEITOS
O termo homossexualidade não deve ser confundido com outros como:

- Transsexualismo ou síndrome de disforia sexual: mal-estar persistente e um sentimento de inedequação da anatomia do próprio sexo e preocupação sobre como modificar as próprias características sexuais.

- Travestismo: utilização continuada de roupas próprias do sexo oposto, mesmo no caso de uma pessoa heterossexual que encontra excitação com este comportamento, assim como no caso do transsexualismo.

- HOMOSSEXUALIDADE: EVOLUÇÃO SOFRIDA NAS CLASSIFICAÇÕES DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA)

A homossexualidade surgia como diagnóstico na DSM-II (APA, 1968) considerada em si mesma como uma perturbação. A pressão de diversos profissionais e dos colectivos homossexuais da América do Norte fez com que, em 1980 a edição seguinte do manual DSM-III (Manual de Diagnósico e Estatístico das Perturbações Mentais) eliminasse o diagnóstico de homossexualidade como tal, preservando a categoria de homossexualidade egodistónica referida a pessoas cuja orientação homossexual lhes produzia um profundo e marcado mal-estar.

Na versão revista do DSM-III R, eliminou-se a categoria de homossexualidade egodistónica, entendendo que também uma orientação heterossexual pode causar mal-estar; como tal incluiu-se, dentro dos transtornos sexuais não especificados o “mal-estar persistente acerca da própria orientação sexual”. Este ponto de vista mantém-se invariável no DSM-IV.

Eis alguns dos mitos mais relevantes relacionados com a homossexualidade:

- MITOS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE

Mito 1 – Os homossexuais têm mais transtornos psicológicos que os heterossexuais.

Isto é falso. A homossexualidade não representa nenhum transtorno mental, nem está associada especialmente a nenhum transtorno psicológico.

Mito 2 – Os homossexuais diferem dos heterossexuais nas características físicas: voz, estrutura corporal, expressão corporal, etc.

Muitos estudos têm demonstrado, que de facto não se pode distinguir o comportamento, a personalidade ou a aparência externa dos homossexuais e dos heterossexuais. Os modos efeminados não devem ser considerados exclusivos dos homossexuais.

Mito 3 – Existem tratamentos efectivos para a homossexualidade.

Nem os tratamentos médicos nem os psicológicos têm demonstrado poder mudar a orientação sexual de indivíduos exclusivamente homossexuais. Em geral, a intenção normalmente infrutífera de mudar a orientação sexual das pessoas é um dos exemplos mais claros do papel repressor que a ciência
tem tido na sociedade.

Mito 4 – A sexualidade das mulheres lésbicas é insatisfatória por carecer de pénis.

De facto, já no estudo de Kinsey de 1953, observou-se que a experiência de ter orgasmos nas relações sexuais era mais comum nas mulheres lésbicas que nas heterossexuais. Depois de cinco anos de casamento, 55% das mulheres heterossexuais teriam orgasmos na maioria dos contactos sexuais, enquanto que nas mulheres lésbicas com os mesmos anos de convivência esta percentagem era de 78%. Por outro lado, uma percentagem muito pequena, cerca de 2% dos casais lésbicos utilizam instrumentos sexuais substitutivos do pénis.

Mito 5 – Nos casais homossexuais, um dos membros tem um papel activo e o outro passivo.

Isto é apenas certo em alguns casos. Nos casais homossexuais, não se observa uma divisão clara de papéis na relação afectiva ou no que respeita às iniciativas sexuais. Pelo contrário, esta separação de papéis é muito mais clara nos casais heterossexuais. As relações homossexuais são geralmente muito igualitárias, correspondendo mais ao padrão de relações que têm os amigos íntimos para além de uma atracção erótica ou romântica evidente.

Mito 6 – A sedução e o recrutamento de crianças é uma das características do estilo de vida dos homossexuais.

Nada menos certo, pelo menos em 80% dos abusos sexuais a crianças, a agressão procede de uma pessoa heterossexual (normalmente homem, sendo a vítima uma menina). Em segundo lugar, dados recentes demonstraram que a primeira relação homossexual costuma ser com algum amigo ou conhecido aproximadamente da mesma idade e não com um adulto que o perverta.

Mito 7 – Existem pais ou mães cujo comportamento conduz à homossexualidade dos filhos.

As velhas teorias, não têm sustentação face aos dados empíricos mais rigorosos. Não foi descoberto nenhum padrão de relações familiares que determine ou seja uma causa importante de orientação sexual dos filhos, num e noutro sentido.

Mito 8 – O desaparecimento dos tabus sobre a homossexualidade fará que cada vez haja mais homossexuais.

Os dados indicam que a percentagem de homossexuais nas três últimas décadas, desde os estudos de Kinsey, mantém-se estável. A única mudança significativa tem sido a diminuição de obstáculos através da sua demonstração pública, quer nos meios de comunicação social, quer na sociedade em geral.

Mito 9 – Os homossexuais nunca se casam. As pessoas que não se casam provavelmente são homossexuais.

Nenhuma desta crenças é correcta. Estima-se que aproximadamente 20% dos homossexuais e uns 30% de mulheres homossexuais estão ou tenham estado casados alguma vez. Para além desse facto, muitas pessoas que não se casam são estritamente heterossexuais.

Mito 10 – O coito anal é uma conduta mais frequente entre os homens homossexuais.

Apesar desta ideia ser entendida como certa, a estimulação oral dos genitais e a estimulação manual do casal, são os comportamentos mais frequentes.

Espero que a temática aqui abordada tenha sido esclarecedora.

Fernando Barnabé

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os Desenhos Infantis em Psicologia Clínica



O desenho não é uma ilustração e não serve para medir a inteligência. Ele significa muito mais do que isso; é uma projecção do eu corporal, como tal, pode permitir uma visualização dos conflitos psíquicos e relacionais. O desenho implica um movimento transferencial; é um compromisso entre a realidade interna e a realidade externa da pessoa, entre os processos primários e os secundários.

Uma folha de papel, é, à partida, um espelho, havendo sempre a possibilidade de aí nos projectarmos. Pessoas há, que têm dificuldade em projectar o corpo no desenho, os seus fantasmas e os seus desejos (em regra, os adolescentes e os adultos).

O corpo é eminentemente um esquema que nos fornece coordenadas para o pensamentos e para os afectos, permitindo-nos aceder às representações mentais. A representação mental é pois, função do corpo próprio e toda a representação mental é eminentemente espacial.

Se entre o corpo e o afecto existe uma relação primordial, o desenho é um compromisso entre os nossos fantasmas e as nossas defesas. Assim sendo, é possível aceder à compreensão da realidade interna da pessoa, aos seus desejos e censuras.

As crianças até aos dez anos desenham fundamentalmente figuras humanas, imagens corporais habitadas por fantasmas e desejos. O desenho representa a projecção do Eu Corporal, casas, carros, são formas do corpo metamorfosear-se. É claro que a análise dos desenhos infantis é sempre subjectiva, tal como é único o perfil do psicólogo; no entanto, existem sempre características fundamentais nos desenhos que em norma são interpretadas do mesmo modo; por exemplo, uma árvore sem raízes poderá indicar insegurança, mas se for desenhada com frutos pode dar-nos algumas indicações sobre o investimento da criança relativamente a um ou aos dois progenitores; uma casa dividida pela cor pode representar um indício de alguma problemática entre os pais, etc.

As crianças pequenas começam por fazer rabiscos, garatujas. Quando há conflitualidade a criança risca com grande intensidade ou então desenha sem qualquer pressão, o que pode indicar uma provável inibição e uma falta de expansão do Eu.

Um aspecto a considerar também, é o modo de progressão do desenho; em regra ele faz-se no sentido da verticalidade. A criança adquire a noção do eixo (alto-baixo) e é quando a criança domina o seu espaço interno que começa a horizontalidade.

Paulatinamente a criança adquire um maior controlo motor e convergência visual e começará a desenhar círculos (um dentro e outro fora) representando a diferença entre o Eu e o não Eu. À medida em que acede à possibilidade do espaço de visão da mãe, sem que haja angústia de separação, “autonomiza-se”, criando agora círculos com pernas e posteriormente com braços, o que implica já maior maturação. Mais tarde desenhará de perfil e criará uma identidade própria e vai reconhecer-se ao espelho (quando tal não acontece é porque existem problemáticas graves ao nível da identidade). Na psicose, por exemplo, pode haver dificuldade em desenhar um círculo fechado.

Ter uma identidade, é ter um nome, é ter um rosto e é ter um sexo. O processo de identificação implica uma relação triangular; quando a criança ultrapassa melhor ou pior o Complexo de Édipo, tal, pode ser constatado no desenho através da sua profundidade, por exemplo, a inclusão de determinados elementos – o Sol, as nuvens, os campos, etc.

Quando há um espaço bidimensional e o dentro e o fora coexistem, uma casa, por exemplo, em que o interior é perfeitamente visível, tal, já nos dá uma perspectiva de alguma triangulação.

No chamado desenho de inclusão recíproca isto é, quando a criança desenha um personagem dentro de outro personagem (como nas bonecas russas), o que está dentro representa o mesmo que está fora; aqui, a criança ainda não vive no signo do materno, expressa alguma autonomização, mas também, uma grande necessidade da progenitora.

No desenho tridimensional é possível aceder ao processo de triangulação e ao investimento que a criança coloca nos progenitores. Em regra o Sol simboliza o paterno, uma casa simbolizará o materno.

Quando a criança não apresenta no desenho a tridimensionalidade, reduz as diferenças ao idêntico, tende a desenhar em simetria, e então, todas as árvores serão iguais, bem como as casas e as flores. Em regra estas crianças costumam fazer alergias.

As crianças com dificuldades em desenhar, que não gostam de brincar, que são muito agressivas, evoluíram num quadro de falso self, têm dificuldade em projectar-se através do corpo. Esta dificuldade em desenhar implica que a vida interna do sujeito é pobre e pouco subjectiva. É muito frequente os adolescentes traçarem figuras corporais tipo palito, simulando ou dissimulando, o que pode indicar dificuldades de expressão subjectiva.

Finalmente, na psicose, existe um excesso de vida fantasmática (implica o delírio) em que a imagem do corpo é fragmentada e os personagens, normalmente dissociados na folha, podem surgir suspensos no espaço aéreo (linha psicótica). Há confusão entre o dentro e o fora e, como não existe noção de limite, também não há possibilidade de estabilidade entre o dentro e o fora e um rosto próprio que indique permanência.

Fernando Barnabé

O Elemento Fogo


PALAVRAS CHAVE: intuir, imaginar, criar, idealizar, impulsionar

Os quatro elementos: Fogo, Terra, Ar e Água, são componentes que estruturam a ciência astrológica. A sua importância é tão relevante que o astrólogo não ficará indiferente à representatividade de cada um deles no mapa do céu de qualquer pessoa. É que a carência ou excesso de qualquer destes elementos permite-mos entender a qualidade do seu mundo interno e externo e, de uma forma mais fina, analisando também o ascendente, as casas, a posição dos planetas por signo e por aspecto, a sua dinâmica energética pessoal.

Segundo Jung a função intuitiva preocupa-se com as possibilidades inerentes a uma determinada situação. A intuição percebe as coisas através do inconsciente, amiúde rápida e instantaneamente, sem ter a noção de como surgiu a ideia. Este processo criativo, originário do inconsciente é com frequência a mãe de uma ideia original e empreendedora. Assim é com o fogo; ele simboliza os processos intuitivos, os nossos anseios e desejos inconscientes, a acção rápida, impaciente e célere, e a necessidade de consumir o excesso de energia vital que possui.

Associado ao entusiasmo, as pessoas do tipo Fogo são carismáticas, vivas, criativas, impetuosas, transbordando energia. O seu instinto criador e espírito aventureiro podem estar presentes. No entanto, se estamos perante um mapa do céu com excesso de Fogo, podem surgir dificuldades em termos da organização e estrutura da sua vida pessoal. A falta dele, por sua vez, pode produzir baixa auto estima e como consequência a necessidade da obtenção de comprovações narcísicas.

Os três Signos do Fogo, Carneiro, Leão e Sagitário, possuem o dom de intuir as oportunidades que a vida oferece, avançam sem temor e correm riscos que podem trazer-lhes grandes alegrias, mas também alguns dissabores. No entanto, convém especificar, que o elemento Fogo não se expressa da mesma forma nestes três signos.


CARNEIRO

O Fogo do Carneiro atesta uma energia guerreira, primária, tendente ao desempenho de acções variadas e compulsivas, nem sempre levadas a bom porto, antes abandonadas ou relegadas para segundo plano, porque uma outra ideia ou acção surge no horizonte, mas o seu dinamismo e vontade são devidamente apreciados.


LEÃO

O Leão, possui um Fogo mais refinado, é capaz de estruturar melhor as suas acções e, em regra termina as actividades a que se propôs. É ambicioso e narcísico, privilegiando no entanto com o seu ardor magnânimo aqueles que ama.


SAGITÁRIO

O fogo sagitariano é mais subtil e espiritualizado. Simboliza a aventura aliada à necessidade de expansão dos seus ideais humanitários. Expressa necessidades secundárias, descentradas da matéria e do próprio Ego. É um Fogo que já não tem a necessidade de guerrear para se impor; expressa pois qualidades que privilegiam a partilha e os ideias de igualdade e fraternidade, próprios dos ideais superiores.


Fernando Barnabé

O Elemento Ar




PALAVRAS CHAVE: o pensamento, o mundo das ideias, a reflexão, a abstracção

O elemento Ar, está associado ao pensamento. A vida é interpretada através dos processos mentais. As pessoas do tipo Ar são pois inquietas, sedentas pelo saber, comunicativas e com grande necessidade de quebrar a rotina. A mobilidade, a independência e a curiosidade fazem parte das suas características. Tomam decisões a partir da ética e do pensamento; o mundo das ideias é a sua paixão maior. O Ar, ao contrário da Água, caracteriza-se pelo seu raciocínio lógico, pelo seu espírito inteligente e espirituoso.

O Ar, busca amplitude e expansão, e, graças ao facto de prescindirem de dramas emocionais possuem uma certa frieza quanto aos afectos, o que lhes permite vislumbrar com clareza os seus relacionamentos pessoais. O Ar, não privilegia, em regra, a intimidade, compensando esta característica através das suas originais ideias e abstracções.

Quando este elemento se encontra excessivamente representado no mapa do céu de uma pessoa, ela tenderá a adoptar uma postura demasiado racional perante a vida, tendo pois dificuldades em gerir o seu mundo afectivo e entrar em contacto com sentimentos básicos, como carência ou dependência. Pode ser-lhe difícil estabelecer empatia e mostrar sentimentos calorosos pelos outros.

Por outro lado, quando este elemento não abunda, antes escasseia, o sujeito pode não confiar nas suas competências intelectuais e, como tal, podem vir a necessitar de comprovações narcísicas que lhes dê motivos para acreditarem na sua inteligência e argúcia.

O Ar, é portanto socialmente versado e os três signos que o representam – Gémeos, Balança e Aquário, têm uma especial competência para aconselhar todos aqueles que apresentam problemáticas afectivas, pela sua objectividade e clareza de raciocínio. Mas não se pense que não sentem...


GÉMEOS

Gémeos expressa duplicidade, ambivalência e inquietude interior. A liberdade, o movimento e à sua adaptação às mudanças são algumas das suas características. Este aspecto adaptável torna-o bastante apreciado em situações sociais já que a sua sagacidade, inteligência e humor genuíno e fácil são motivo de interesse. Bem informado, carece no entanto da profundidade para desenvolver uma compreensão do comportamento humano. Estão mais atentos ao exterior do que ao mundo interno dos demais, daí que possa parecer um pouco superficial. Concentrar-se profundamente em qualquer assunto, não é decerto uma das suas competências, gostam isso sim de aprender rapidamente e de se sentirem actualizados quanto à informação que julgam relevante.


BALANÇA

Balança, privilegia o outro, o mundo das trocas sociais, o belo e o estético. A necessidade da aprovação dos outros é vital para a manutenção da sua auto estima. Possuem um charme e encanto inatos, com os quais algumas vezes manipulam subtilmente os seus parceiros. Balança sintoniza-se com facilidade com o mundo afectivo e é típico estarem apaixonados pelo amor(Vénus). A sua diplomacia, a necessidade de agradar, mas também de poder discutir ideias num plano amigável são aspectos que privilegia e promove.


AQUÁRIO

Aquário, o 11º signo do Zodíaco é caracterizado pelo seu espírito fraterno e humanista. Possui uma visão que está em geral acima dos padrões instituídos, pela originalidade e visão prometeica das suas ideias e ideais. São muitas vezes o baluarte da defesa das liberdades e garantias dos mais desfavorecidos, por detestarem injustiças, quaisquer que sejam.

Em Aquário, o apego pessoal ao mundo exterior é abandonado a favor da comunidade, de modo que assistimos à transição da ambição pessoal em prol da ambição colectiva. É dessa consciência de grupo que o aquariano se sente perfeitamente em harmonia na companhia de amigos, colegas e associados. No entanto, não se deixa corromper ou adaptar às tendências do momento apemnas por serem populares ou predominantes.

Acreditam na liberdade dos indivíduos e na sua em particular, mas podem ser prepotentes por pretenderem que os outros sigam as suas ideais e os seus ideias revolucionários. São regra geral fraternos, embora como uma nota de imprevisibilidade, excentricidade e rebeldia que teimam em cultivar e que os distingue dos demais.


Fernando Barnabé

O Elemento Terra



PALAVRAS CHAVE: sentir, tocar, cumprir, empreender

A Terra, está associada ao espírito prático e construtor. Simboliza a sensação, guiada pelo princípio da realidade; “eu acredito no que vejo e toco”. As pessoas do tipo Terra são sistemáticas, realistas, realizadoras, persistentes, organizadoras e pacientes. Seguem modelos clássicos, já experienciados e como tal as suas acções passam pelo crivo da consciência. Nada é deixado ao acaso. São em regra pessoas que privilegiam o método, trilham caminhos seguros e com paciência e muita persistência conseguem alcançar resultados positivos. O tipo Terra, não faz da aventura o seu ideal, constrói o seu dia a dia seguindo crenças pessoais e familiares que integraram e que foram sistematicamente validadas.

Diria Jung, que a sensação apreende o real através daquilo que percebe, sem qualquer dúvida; preto no branco, uma espécie de função da realidade que se preocupa somente com questões físicas, práticas, sensatas e materiais, transformando os seus esforços em realidades tangíveis. Existe aqui alguma analogia com o elemento Ar, embora sem o poder de abstracção e espontaneidade deste.

A concentração nos detalhes, para que não surjam surpresas que ponham em causa a sua natureza estruturada, é uma das suas características, como evidentes são a organização e a previsibilidade.

Quando este elemento se encontra em excesso no mapa do céu as pessoas podem apresentar um cunho muito materialista, dirigindo a acção e o pensamento apenas em termos do que é válido e real. Deste modo o mundo fantasmático, o mundo do imaginário pode estar de certa forma comprometido, como tal podem acercar-se de pessoas cujo idealismo possa estar presente, como as do Fogo, por exemplo.

Quando o elemento Terra apresenta uma fraca expressão no mapa do céu, os nativos podem manifestar dificuldades em gerir situações do real, pela fragilidade interior que patenteiam. Como tal necessitam de pessoas que expressem características práticas e realistas.

Os signos da Terra – Touro, Virgem e Capricórnio, são os representantes do materialismo, a vida gira em torno do mundo físico e geralmente possuem algumas competências em gerir e gerar bens materiais; no entanto, apesar das suas características empreendedoras, é-lhes difícil abraçar causas que envolvam riscos.


TOURO

O Touro é caprichoso e a sua teimosia está bem patente, quando tenta impor as suas ideias conservadoras aos outros, no entanto sabem envolvê-los no que aos afectos diz respeito. Gostam dos prazeres da vida e tem uma certa predilecção para as questões estéticas. Uma casa acolhedora, um refúgio aprazível, desfrutar da natureza, são necessidades de que não pode dispensar.


VIRGEM

Em Virgem, o elemento Terra expressa-se através do método, de algum secretismo nas opiniões e nas acções, nos detalhes. São especialmente competentes em tarefas que exigem rigor e meticulosidade. Ao contrário do Touro, coopera com as condições existentes, adaptando-se a elas com alguma facilidade. Um dos seus principais objectivos é alcançar a perfeição, mas é nessa busca incessante, que se perdem num labirinto de ideias e de crenças que em muitos casos não lhe tornam a vida gratificante. Não são necessariamente criativos, mas são prestativos, cuidadores, e preocupam-se em geral com a saúde, chegando por vezes a ser obsessivos.


CAPRICÓRNIO

Capricórnio aufere uma mescla de consciência social aliada à auto-aprovação e incerteza. A seriedade que permeia a consciência de Capricórnio é, em regra, aliviada por um senso de humor seco e levemente irónico que se diferencia por exemplo do sarcasmo do Escorpião. A autoridade impõe-lhe regras ao comportamento; o seu super ego não lhe permite partir para a aventura de forma a desafiar o que está instituído, porque ser alvo de condenação social seria um golpe muito duro do qual teria dificuldade em ultrapassar. A sua natureza é geralmente retraída, um pouco sombria até, predominando a introversão (Saturno).


Fernando Barnabé

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Elemento Água

Desde muito jovem que me senti atraído pelos "mistérios" da Astrologia. Sempre tive curiosidade em saber das relações existentes entre a dinâmica celeste e o ser humano, e, por isso mesmo, fui, ao longo de décadas, aprofundando o meu conhecimento nesta matéria. Deixo-vos com o significado do elemento Água e dos signos que pertencem a este elemento, com a promessa de que os abordarei a todos sem excepção.

O Elemento Água

PALAVRAS CHAVE: sentimento, emoção

Este elemento está associado ao sentimento e à emotividade; assim sendo, as pessoas do tipo Água são sensíveis, perceptivas, empáticas, fazendo das emoções, do envolvimento afectivo e da partilha emocional o seu “sustento”. Tomam decisões a partir de necessidades internas, que, em regra, expressam uma tonalidade afectiva muito acentuada. O tipo Água assume a tendência para o drama emocional, para o envolvimento sentimental, geralmente apresentando um estado melancólico ou até mesmo depressivo.

A sua busca pela intensidade e calor humanos podem torná-los dependentes, caso o excesso de Água seja muito evidente no mapa do céu.

Gerir problemáticas afectivas não será decerto da sua competência, já que, a hipersensibilidade não lhes permite o raciocínio claro, nem o necessário distanciamento de modo a que estas não o afectem. A extrema emocionalidade pode ser causa de desestruturação da sua vida em geral, daí que devam potencializar as suas competências e valorizar-se, não só pela sua capacidade em compreender o sofrimento dos outros, mas também pela sua irrepreensível disponibilidade em conceder o seu apoio.

Quando o elemento Água não está equilibrado no mapa do céu, as pessoas terão alguma dificuldade em gerir a sua emotividade. Sentem todo o seu impacto, ou, pelo contrário alguma indiferença, como forma de se defenderem das suas fragilidades.
Devem pois trabalhar no sentido de promover a sua auto estima, porque sensibilidade, ao contrário do que muitos pensam não é sinónimo de fragilidade. Devem pois ser apoiadas pelas pessoas do tipo Ar, pela sua racionalidade e objectividade, características que escasseiam no tipo Água.

Os três signos de Água, apesar de apresentarem uma compreensão dos sentimentos e emoções mais apurada do que os outros três elementos, podem até parecer relutantes em comunicá-los. Existe uma tal profundidade em Caranguejo, Escorpião e Peixes, que a expressão afectiva nem sempre é explicável pela palavra, daí que, muitas vezes, se remetam ao silêncio.

Como grande parte da sociedade actual considera a função sentimento como algo inferior, Caranguejo adquiriu a infeliz reputação de ser um signo frágil, excessivamente sentimental e instável. Essas particularidades surgem no entanto, quando não lhes foi possível aprender a gerir e a canalizar os seus sentimentos ou porque a sua vulnerabilidade e fragilidade interiores não o permitiram.


CARANGUEJO

Caranguejo precisa de alguém que o proteja e de uma estrutura sólida a que se possa ancorar. Em Caranguejo, a extroversão depende do que acontece exteriormente, ele procura integrar-se no meio, tentando agradar aos outros com o seu altruísmo e sociabilidade. Têm na família o seu principal abrigo e nada pode afastá-los da missão que é, satisfazer as necessidades dos que lhe são próximos.

As impressões recebidas de fora são totalmente absorvidas, de modo que geralmente possuem um sexto sentido que lhes permite perceber o que acontece com os demais. É puro instinto, uma vez que este signo está frequentemente em contacto com as águas da vida.


ESCORPIÃO

Como todos os signos de Água, Escorpião é de uma sensibilidade extrema. Os dramas emocionais são vividos com intensidade; Aliás, não renunciam facilmente a esses sentimentos pelo poderoso efeito que estes exercem sobre si. São pois de uma natureza ardente, apaixonada, e vibrante. A intensidade dos seus sentimentos chega a desestruturá-los internamente, ao ponto de se obsessionarem, pelo objecto do seu amor. A rejeição é-lhes penosa, assim como a infidelidade. A sua experiência na esfera emocional é muitas vezes avassaladora, ao ponto de se afundarem nos abismos insondáveis da degradação humana para logo renascer na sua expressão mais nobre e autêntica.

Podem ser excessivamente ambiciosos e lúbricos, mas também extremamente abnegados e terem um comportamento sóbrio e austero. Nenhum outro signo é capaz de expressar-se emocionalmente como Escorpião, podem amar com loucura mas também odiar do mesmo modo. São tão intensos e difíceis de gerir estes sentimentos que, muitas vezes, a sua verbalização torna-se penosa, pelo bloqueio interno que origina.


PEIXES

Com Peixes, o elemento Água adquire outras tonalidades. Em geral cultivam a humildade e o seu ego dilui-se no imenso oceano da vida. É-lhes fácil captar as vibrações dos outros, assim como estabelecer relações empáticas com relativa facilidade. São submissos e prestativos, cedendo muitas vezes a ordens pela dificuldade em verbalizar a palavra, não. Sendo do tipo sentimento ele tem facilidade em perceber as qualidades humanas, mas não só percebê-las, aceitá-las também. Talvez esta particularidade advenha da grande necessidade em serem devidamente apreciados e amados, já que a sua auto imagem e auto conceito são invulgarmente frágeis.

Não é raro vê-los culparem-se pelos objectivos que não conseguiram alcançar; é que nem sempre expressam uma vontade férrea na prossecução dos seus propósitos.

Gostam de ser conduzidos, mais do que conduzir a ponto de se distraírem e deixarem em mãos alheias os seus desígnios pessoais; é que a sua crença no divino fá-los acreditar que estarão sempre em boas mãos.


Fernando Barnabé