sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Amavam-se


Deitada na cama, esquadrinhava como habitualmente o peito saliente enquanto assistia atenta a um programa televisivo. O gesto maquinal deixou de o ser quando sentiu entre os dedos uma pequena massa nodosa mas suficientemente perceptível.

Ansiosa, levantou-se em silêncio da cama, desligou a televisão e sem acordar o marido que dormia a seu lado dirigiu-se à sala. Sentou-se ansiosa no sofá, e agora, mais concentrada, iniciou a palpação. As mãos húmidas começaram então a subir e a descer os dois peitos em pequenos movimentos circulares. Não havia dúvida, no peito esquerdo insinuava-se um vulto, que, apesar da sua pequenez, era suficientemente concreto para que a sua atormentada mente construí-se ali um filme horrendo e assustador.

Via-se só, completamente abandonada, sem os dois peitos, sem cabelo e sem ânimo, para enfrentar tão cruel provação; um barulho vindo do quarto fê-la voltar à realidade. O marido tinha dado pela sua falta e dirigia-se à sala. - Então minha querida o que se passa? O que fazes aí? Que cara é essa? Não te estás a sentir bem?
Ela, sem levantar a cabeça, murmurou – Encontrei um pequeno nódulo no peito esquerdo, uma coisa minúscula… e, num assomo de heroína, lá foi dizendo: - Não deve ser nada, só hoje é que percebi que o tinha, não há razão para alarme – De qualquer modo, disse ele acariciando-lhe a face, vamos amanhã ao médico...ora mostra lá minha querida... deixa-me ver o que descobriste.

Ela disse-lhe que sim que iria, congratulando-se por ele querer acompanhá-la, ao mesmo tempo que sentia as suas mãos quentes e dóceis percorrerem-lhe os seios. – Não, minha querida, não me parece que seja preocupante. Disse ele.

Uniram-se as bocas e os corpos não ofereceram resistência aos caprichos do desejo, antes enlaçaram-se, num frenesim imaculado e revelador. Amavam-se!


Fernando Barnabé

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