quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A homossexualidade e os seus mitos



As dificuldades quando falamos sobre sexualidade não só provocam um grande vazio de informação objectiva acerca do tema, como favorecem o surgimento de crenças erradas que se instalam no pensamento de algumas pessoas, interferindo na forma como desfrutam as suas práticas sexuais e por consequência na sua saúde sexual. Isto quer dizer, que a ausência de informação objectiva, é suplantada pela pseudo informação e pelos mitos. E é muitas vezes, com base nos mitos, que as pessoas se vão conformando com a ideia de como é ou deve ser a sexualidade.

Existem mitos que descrevem a sexualidade do homem, (o homem está sempre disposto e deseja levar a cabo interacções sexuais; todo o homem tem de saber como dar prazer a uma mulher, inclusivamente, desde a sua primeira relação, etc.) e mitos sobre a sexualidade da mulher (é imoral que qualquer mulher tenha a iniciativa nas relações sexuais; quando a mulher está menstruada não deve ter relações sexuais, etc) e mitos acerca da relação (sexo, ou relações sexuais querem dizer coito, tudo o resto são comportamentos substitutivos; numa relação sexual cada um conhece instintivamente o que o seu par pensa ou quer, etc).

Estes mitos e muitos outros têm estado e estão presentes na sexualidade ocidental e devem ser tarefa dos programas de educação para a saúde sexual tratar de os desmontar.

Um dos mitos mais arreigados na sociedade ocidental é que o sexo ou as relações sexuais são sinónimo de coito. Muitas pessoas ainda pensam que as actividades que não pressupõem o coito e que podem incluir o orgasmo, estão associadas aos comportamentos sexuais de carácter juvenil.

Cabe-nos reflectir acerca da importância que a virgindade tem tido na nossa cultura, sobretudo a das mulheres e como esta ainda rege a lei eclesiástica da nulidade matrimonial com base nela. No entanto, existem outros modelos ou formas de sexualidade que não se focalizam no coito.

a) Para muitas pessoas, homens e mulheres, os comportamentos sexuais alternativos ao coito são os que maior prazer proporcionam.

b) Muitas mulheres consideram as carícias não como uma actividade preliminar, mas como uma actividade importante e determinante. A estimulação táctil e não o coito, é para algumas delas o único procedimento para conseguir o orgasmo.

c) A relação homossexual feminina é uma relação, em geral, sem presença de penetração.

d) Nas relações homossexuais masculinas, a estimulação buco genital e manual dos parceiros são comportamentos mais frequentes que o coito anal.

Os dois últimos modelos sexuais destacados no ponto anterior são o mote para aprofundar um tema habitualmente carregado de estereótipos e desconhecimento: a homossexualidade. Convém no entanto dar ênfase a alguma terminologia antes de abordá-la, já que é muito comum que se confunda a homossexualidade com o travestismo ou com os problemas de identidade sexual.

CONCEITOS GERAIS DE HOMOSSEXUALIDADE

- ORIENTAÇÃO SEXUAL
A orientação sexual refere-se às preferências sexuais de um indivíduo. O desejo sexual pode orientar-se para pessoas do sexo oposto (orientação heterossexual), ou para pessoas do mesmo sexo (orientação homossexual) ou ainda para ambos os sexos (orientação bissexual).

- A HOMOSSEXUALIDADE COMO TERMO
O termo homossexualidade foi criado em 1869 por Maria Benkert, médica húngara, para definir as pessoas que tinham uma orientação sexual face a outras do mesmo sexo. Estas pessoas não tinham uma identidade sexual anómala, pelo contrário, tal como as pessoas heterossexuais se sentem firmemente homens ou mulheres, as suas preferências ou desejos inclinam-se para pessoas do mesmo sexo.

- GAY
A palavra gay tem o significado de pessoa alegra, divertida e vital. Durante um tempo o termo foi utilizado como contra senha entre os próprios homossexuais. O termo é aplicado tanto a homens como a mulheres apesar de ser associado quase exclusivamente a homens, aplicando-se o termo lésbica, quando nos referimos às mulheres.

- HOMOFOBIA
Em 1972, o psiquiatra George Weinberg denominou homofobia aos prejuízos anti homossexuais de indivíduos ou sociedades. A homofobia foi condenada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em 1981 e pelo Conselho da Europa em 1984.

- OUTROS CONCEITOS
O termo homossexualidade não deve ser confundido com outros como:

- Transsexualismo ou síndrome de disforia sexual: mal-estar persistente e um sentimento de inedequação da anatomia do próprio sexo e preocupação sobre como modificar as próprias características sexuais.

- Travestismo: utilização continuada de roupas próprias do sexo oposto, mesmo no caso de uma pessoa heterossexual que encontra excitação com este comportamento, assim como no caso do transsexualismo.

- HOMOSSEXUALIDADE: EVOLUÇÃO SOFRIDA NAS CLASSIFICAÇÕES DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA)

A homossexualidade surgia como diagnóstico na DSM-II (APA, 1968) considerada em si mesma como uma perturbação. A pressão de diversos profissionais e dos colectivos homossexuais da América do Norte fez com que, em 1980 a edição seguinte do manual DSM-III (Manual de Diagnósico e Estatístico das Perturbações Mentais) eliminasse o diagnóstico de homossexualidade como tal, preservando a categoria de homossexualidade egodistónica referida a pessoas cuja orientação homossexual lhes produzia um profundo e marcado mal-estar.

Na versão revista do DSM-III R, eliminou-se a categoria de homossexualidade egodistónica, entendendo que também uma orientação heterossexual pode causar mal-estar; como tal incluiu-se, dentro dos transtornos sexuais não especificados o “mal-estar persistente acerca da própria orientação sexual”. Este ponto de vista mantém-se invariável no DSM-IV.

Eis alguns dos mitos mais relevantes relacionados com a homossexualidade:

- MITOS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE

Mito 1 – Os homossexuais têm mais transtornos psicológicos que os heterossexuais.

Isto é falso. A homossexualidade não representa nenhum transtorno mental, nem está associada especialmente a nenhum transtorno psicológico.

Mito 2 – Os homossexuais diferem dos heterossexuais nas características físicas: voz, estrutura corporal, expressão corporal, etc.

Muitos estudos têm demonstrado, que de facto não se pode distinguir o comportamento, a personalidade ou a aparência externa dos homossexuais e dos heterossexuais. Os modos efeminados não devem ser considerados exclusivos dos homossexuais.

Mito 3 – Existem tratamentos efectivos para a homossexualidade.

Nem os tratamentos médicos nem os psicológicos têm demonstrado poder mudar a orientação sexual de indivíduos exclusivamente homossexuais. Em geral, a intenção normalmente infrutífera de mudar a orientação sexual das pessoas é um dos exemplos mais claros do papel repressor que a ciência
tem tido na sociedade.

Mito 4 – A sexualidade das mulheres lésbicas é insatisfatória por carecer de pénis.

De facto, já no estudo de Kinsey de 1953, observou-se que a experiência de ter orgasmos nas relações sexuais era mais comum nas mulheres lésbicas que nas heterossexuais. Depois de cinco anos de casamento, 55% das mulheres heterossexuais teriam orgasmos na maioria dos contactos sexuais, enquanto que nas mulheres lésbicas com os mesmos anos de convivência esta percentagem era de 78%. Por outro lado, uma percentagem muito pequena, cerca de 2% dos casais lésbicos utilizam instrumentos sexuais substitutivos do pénis.

Mito 5 – Nos casais homossexuais, um dos membros tem um papel activo e o outro passivo.

Isto é apenas certo em alguns casos. Nos casais homossexuais, não se observa uma divisão clara de papéis na relação afectiva ou no que respeita às iniciativas sexuais. Pelo contrário, esta separação de papéis é muito mais clara nos casais heterossexuais. As relações homossexuais são geralmente muito igualitárias, correspondendo mais ao padrão de relações que têm os amigos íntimos para além de uma atracção erótica ou romântica evidente.

Mito 6 – A sedução e o recrutamento de crianças é uma das características do estilo de vida dos homossexuais.

Nada menos certo, pelo menos em 80% dos abusos sexuais a crianças, a agressão procede de uma pessoa heterossexual (normalmente homem, sendo a vítima uma menina). Em segundo lugar, dados recentes demonstraram que a primeira relação homossexual costuma ser com algum amigo ou conhecido aproximadamente da mesma idade e não com um adulto que o perverta.

Mito 7 – Existem pais ou mães cujo comportamento conduz à homossexualidade dos filhos.

As velhas teorias, não têm sustentação face aos dados empíricos mais rigorosos. Não foi descoberto nenhum padrão de relações familiares que determine ou seja uma causa importante de orientação sexual dos filhos, num e noutro sentido.

Mito 8 – O desaparecimento dos tabus sobre a homossexualidade fará que cada vez haja mais homossexuais.

Os dados indicam que a percentagem de homossexuais nas três últimas décadas, desde os estudos de Kinsey, mantém-se estável. A única mudança significativa tem sido a diminuição de obstáculos através da sua demonstração pública, quer nos meios de comunicação social, quer na sociedade em geral.

Mito 9 – Os homossexuais nunca se casam. As pessoas que não se casam provavelmente são homossexuais.

Nenhuma desta crenças é correcta. Estima-se que aproximadamente 20% dos homossexuais e uns 30% de mulheres homossexuais estão ou tenham estado casados alguma vez. Para além desse facto, muitas pessoas que não se casam são estritamente heterossexuais.

Mito 10 – O coito anal é uma conduta mais frequente entre os homens homossexuais.

Apesar desta ideia ser entendida como certa, a estimulação oral dos genitais e a estimulação manual do casal, são os comportamentos mais frequentes.

Espero que a temática aqui abordada tenha sido esclarecedora.

Fernando Barnabé

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