segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Avaliação Psicológica



Quando alguém por contingências do seu percurso existencial procura um psicólogo, este, para além de tentar estabelecer uma relação empática e de confiança com a pessoa, aspecto fundamental na relação terapêutica, deve proceder, a fim de obter informação relevante acerca do seu funcionamento mental, a um Exame Psicológico, de modo a ajudá-la a superar essa fase crítica do viver.

O Exame Psicológico pressupõe uma situação relacional em que o técnico aplica os seus métodos psicológicos e as suas bases teóricas de forma a aceder à compreensão do sofrimento do paciente. Supõe sempre um pedido (implica uma ética) e uma relação especial, que lhe permite, em muito poucas sessões, formular hipóteses sobre uma determinada problemática pessoal que se encontrava latente.

Quando o pedido é feito pelo próprio implica um sinal de reconhecimento de que tem algum problema e que necessita de ajuda; mas, existem casos, em que são os familiares ou amigos que o convencem a marcar consulta; aqui a pessoa pode não admitir qualquer dificuldade mas que vem à consulta por incapacidade em resistir à pressão familiar ou de amigos. Acontece muitas vezes, por exemplo, com pessoas que abusam do consumo de bebidas alcoólicas, pela negação da sua dependência.


ETAPAS DO EXAME PSICOLÓGICO

Uma avaliação psicológica apresenta uma primeira parte que gira em torno da anamnese (história da pessoa), elaborada a partir da entrevista com o paciente ou com os pais (se o paciente for uma criança), através da observação directa. Esta fase é fundamental porque nos dará a possibilidade de construir uma hipótese sobre o funcionamento mental e sobre o sentido do sintoma do paciente. É pois, uma elaboração compreensiva que nos pode levar por vezes a contradições, pela existência de nuances e incertezas. Num segundo momento vamos utilizar, os testes, segundo as necessidades dependentes da hipótese e das conclusões de base.

A escolha dos testes deriva das dúvidas que podem surgir na anamnese. Se estamos, por exemplo, perante um problema de insucesso escolar, podemos utilizar uma WISC (teste que permite medir o coeficiente de inteligência e nós dá informação relevante sobre o funcionamento mental da criança) ou utilizar posteriormente um RCH (teste projectivo), se ainda subsistirem dúvidas sobre a natureza profunda da criança; é portanto um diagnóstico progressivo.

Posteriormente à aplicação destes testes, devemos emitir um diagnóstico, para em seguida formularmos um prognóstico (o que se nos oferece dizer sobre o estado de evolução do paciente) e emitimos um relatório caso nos seja solicitado. Na sua elaboração é necessário não cair na linguagem do “rótulo”, atribuindo um número, por exemplo ao Q.I. da pessoa. Toda a compreensão da estrutura mental de uma criança por exemplo, não se esgota no Q.I se tivermos em conta, por exemplo, que as crianças sobredotadas apresentam problemáticas que estão para além da sua inteligência.

O que está em jogo, portanto, são questões globais – cada pessoa é extremamente complexa e não a podemos analisar reduzindo-a a um número. Temos que tentar descobrir o seu mundo, não pensando apenas na vertente negativa do que se nos depara relativamente aos resultados que obtivemos, mas encará-los de um modo positivo, tentando encontrar a melhor forma de, em conjunto, resolvermos a sua problemática.

Podemos eventualmente ter de fazer mais do que uma entrevista, para assegurar-nos de algumas particularidades do desenvolvimento da pessoa que não ficaram completamente esclarecidas (em regra quatro ou mesmo cinco).

De uma maneira geral e considerando que é uma criança que vem à consulta acompanhada dos pais, devemos estruturar a sessão de forma a receber a mãe e a criança em primeiro lugar procurar um espaço de diálogo posterior com os pais, nunca negligenciando o diálogo com o progenitor do sexo masculino.

A criança deve ser levada muito a sério e deve sentir que tem o nosso apoio na resolução do seu problema. Do mesmo modo, devemos procurar estar em consonância com os pais, criando um clima isento de rivalidades, propício ao trabalho em conjunto. Uma avaliação psicológica pressupõe assim, um clima afectivo; na transmissão dos seus resultados, por exemplo, devemos estar com os pais e a criança num clima de confiança e de harmonia.

É necessário também assumir o bizarro da situação, quando o psicólogo, numa primeira consulta tem que brincar com a criança, mesmo sem a conhecer. A questão da “arte” em Psicologia, intimamente relacionada com o perfil do psicólogo, passa pela forma e pelo modo pelos quais este consegue impor limites, preservando a possibilidade de um entendimento progressivo.

No próximo post focarei os aspectos relacionados com a própria entrevista clínica em Psicologia e nos três tipos fundamentais de anamnese.

Fernando Barnabé

4 comentários:

  1. Olá Fernando !

    Há já algum tempo que venho seguindo os seus blogs, mas nunca os comentei, sentindo-me invadir o espaço alheio. Hoje ao passar por aqui verifiquei que o tema era interessante devido à sua especificidade, levando-me a pensar que estaria no blog errado,(porque normalmente publica este tipo de textos em outro blog) mas não, afinal estava mesmo no "Filho de Neptuno", LOL
    Gosto dos temas que escolhe e principalmente da forma como os redige...Parabéns !
    Para terminar gostaria de dizer que a mente humana é algo fascinante, mas realmente muito complexa .
    Vou tentar passar outras vezes.

    Um abraço

    Norberto

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  2. Hoje, aqui, aprendi coisas muito interessantes.
    Obrigado pela partilha.
    Abraço.

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  3. Olá Norberto!

    Antes demais obrigado pelo seu comentário!

    Tento que o Filho de Neptuno seja um blog generalista, onde possa mostar o meu gosto pela Psicologia, Astrologia e prosa poética, são três vertentes que me dão muito prazer e gratificação.

    É claro que os comentários que recebo são sempre motivadores e me incentivam a continuar...

    Mais uma vez obrigado e um abraço!

    Fernando Barnabé

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  4. Olá João!

    Obrigado pelo teu comentário, continuarei a partilhar o pouco que sei, porque nunca sabemos o bastante:-)

    Grande abraço!
    FB

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