quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

No reino de Neptuno


O céu estava azul, sem névoa, límpido como as águas que a cada minuto mais se aproximavam dos corpos deitados na areia sedentos de sol e sal.

Ouvia-se o falar das gaivotas que esbracejavam do alto surpreendidas por aquela mole imensa de gente inerte e pela imensidade de casas coloridas plantadas num ápice à medida que o tempo crescia nas horas.

Incontáveis corpos, qual colónia de aves migrantes, procuravam o melhor sítio para fazer o ninho. Uns, vinham sós, outros, traziam numerosas crias, que, mal chegavam, lançavam-se em alegre correria na direcção das águas quentes que as acolhiam serenas na urgência da pressa.

Um burburinho imenso soltava-se das bocas das crianças que, com criativo labor, construíam castelos inexpugnáveis desafiando o “infiel inimigo” que se aproximava célere brandindo o seu respeitável tridente.

O sol queimava e a colónia pareceu levantar-se em uníssono como se qualquer mecanismo avisador lhes despertasse da aconchegante letargia. Uns a passo, outros correndo, abrigavam-se nas águas, para logo em seguida, ora chapinhando, ora em mergulhos estilizados ensaiarem uma espécie de imitação de golfinho.

Gentes de todo o meu país nelas se baptizavam, esgrimindo sotaques, soltando a criança dos corpos maduros, expulsando as agruras de se ser crescido.

Detive-me num casal que parecia flutuar ao encontro das águas. Os seus passos não eram humanos, tamanha a sua leveza. Os corpos enlaçados pelas mãos, caminhavam em silêncio, sem pressa.

Desprendia-se deles um encanto indizível enquanto se acercavam das águas. Com deferência e temor nelas entraram, mansamente, como se de um acto divino se tratasse e ali ficaram parados, numa espécie de prece.

Sempre em silêncio, acariciaram-nas de mansinho e beijaram-nas com o olhar, como se fizessem amor.

Só eles estavam conscientes que tinham entrado noutro reino!


Fernando Barnabé

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