domingo, 24 de janeiro de 2010

À conversa com Neptuno



Encontrei-o de regresso à Terra vindo de uma expedição a Plutão. Não me reconheceu como um dos seus filhos, como tal tive que me apresentar...Português, cinquenta e dois anos de idade. Sorriu. - “Português”!? Disse com alguma surpresa. "Ah, os portugueses,eternos sonhadores visionários, notáveis exploradores dos meus inexpugnáveis domínios. Tendes poesia na alma e a saudade no coração peregrino. Que queres tu meu filho?" Disse, sem dissimular o tom amistoso e paternalista.

Acaso ouviu falar no quinto império? Perguntei.
“Conheço todos os meus filhos e a sua obra, os que na História ficaram e os outros”. “Os impérios”, disse, levantando o tom de voz...”Os impérios, edificam-se e mantêm-se com competências que não são de forma alguma virtudes minhas, e, por consequência, também a vós faltarão. No vosso lado sombra, sois instáveis e caprichosos, não tendes verdadeiramente uma opinião positiva de vós próprios, e, como tal, dependeis em demasia da opinião alheia. O que vos sobra em sonho falta-vos em capacidade de organização e de planeamento, este facto, já vos custou um império...império conquistado pelo frenesim visionário e explorador de que todos nos orgulhamos; acaso a racionalidade, o sentido das proporções e dos limites fossem também vosso atributo e hoje seríeis uma grande potência mundial...

“Quer dizer então que o quinto império não passa de uma miragem, de uma utopia, de um sonho irrealizável”. Perguntei.

“Meu filho, o passado, para quem dele bom uso faz, é um mestre. Com ele se aprende e rectificam padrões; como tal, não vejo razão para que não possais vir a construir um novo império. Ouso até pressagiar que o império de que o poeta fala, será uma grande conquista do espírito, da crença nos valores do humanismo e da solidariedade. Sereis um exemplo do fervor missionário e da sublime tarefa de aproximar os povos. É a minha outra face, a face da bondade, do perdão e do sacrifício por grandes causas. É por aí que navegarão as vossas naus...”

Despedi-me do senhor dos mares e questionei-me se o tal V Império a que Pessoa aludira fazia jus ao dom do clarividente Tritão.

Fernando Barnabé

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