segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Psicólogos? Para quê?


Quantos de nós já pensaram recorrer a um psicólogo? E dos que pensaram, quantos o fizeram realmente? Quantos de nós pensam ainda que só recorrem aos psicólogos os doentes mentais? Quantos de nós deixam de investir na descoberta interior pela ameaça que ela pode constituir à rigidez das nossas estruturas, à anestesia que a rotina e os hábitos mecânicos do dia a dia provocam nas nossas mentes, deixando-as vazias de sentido e de significado?

São muitas as questões que poderíamos colocar ainda, mas posso garantir-lhes que todas elas já não fazem qualquer sentido na Europa desenvolvida e noutros continentes, onde a figura do psicólogo, cada vez mais se impõe, como um “instrumento” ao serviço de todos os que sentem a necessidade de questionar seriamente os seus padrões comportamentais, as suas emoções, as suas fragilidades e competências, a sua vida em geral.

A figura de um psicólogo não pode nem deve ser encarada à de um mago...Ele não possui artes mágicas, varinhas de condão, não resolve as problemáticas dos pacientes num simples estalar de dedos; contudo, hoje em dia, queremos obter fórmulas milagrosas, rápidas e eficientes.

Quem procura um psicólogo na esperança de um milagre, deve reflectir duas vezes...Não é possível reparar uma auto estima, anos e anos sedenta de alimento, numa simples consulta. Há um plano, um processo a desenvolver, um caminho que nos pode levar à descoberta da fonte que, pelas vicissitudes da vida secou e comprometeu o nosso desenvolvimento enquanto pessoas. Cabe ao psicólogo proceder à avaliação do “terreno por cultivar” e ajudar a regá-lo, para que floresça vivaz.

Neste encontro, estão duas pessoas; frente a frente, cada uma esperando da outra pistas, sinais, indícios de uma possibilidade; possibilidade necessária e imprescindível numa relação terapêutica – o estabelecimento da empatia - a compreensão do sofrimento do outro, sem juízos de valor, sem imputação de culpas e a devida aceitação e respeito pelo seu percurso existencial.

É pois, a singela aceitação da sua condição humana e da dor que lhe está subjacente que deve prevalecer nesta parceria;parceria porque o caminho da auto descoberta constrói-se numa relação dual, no trabalho que cada um, com o seu saber aporta à relação.

Assim, pouco a pouco, encontro após encontro, construindo e reconstruindo o filme da existência, vamos encontrando novos sentidos e novos significados, nem sempre num movimento progrediente, porque a consciencialização de falsas crenças, os fantasmas que se erguem face ao novo Eu a emergir não se interiorizam sem receios, sem dúvidas, sem a hesitação própria de quem, pela primeira vez, se aventura nos primeiros passos.

Há medida que ousamos despir a velha roupagem e comprovamos os benefícios da nova, crescemos em entendimento e humanidade, acedemos à parte e ao todo, ampliamos a nossa visão dos outros e do mundo, aceitamos a inevitabilidade do que não podemos mudar e descobrimos o poder da partilha e da dádiva.

Não nos esgotemos na experimentação da terapia A, B, X, Y, esperando sempre que a próxima será a que mais nos convém, a que melhor responderá às nossas angústias e anseios. Perguntam-me então – Como saberemos o que a nós se adapta sem experimentarmos? Não faz mal experimentar, mas é preciso CRER no que se experimenta. As várias formas de auto descoberta, baseadas em técnicas socialmente aceites e comprovadamente terapêuticas não são para ser usadas e deitadas fora como se de um acto consumista se tratasse. É preciso tão somente perceber os seus mecanismos, os métodos porque se regem e não descartá-los de imediato só porque o(a) terapeuta utiliza um perfume de gosto duvidoso e não tem a cor dos olhos da nossa preferência...

Na aventura do auto conhecimento o que importa mesmo é perceber o significado e o valor terapêutico da PALAVRA.

Fernando Barnabé

2 comentários:

  1. Pedindo desculpa pela pertinencia, vou perguntar-te:

    Quem me garante que o Psicologo que me olha naquela altura e a quem eu abro a alma e o coracao, nao esta naquele preciso momento muito mais angustiado do que eu?

    Abraco

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  2. Nada te garante que um psicólogo que eventualmente tenhas à tua frente não esteja angustiado, no entanto ele não deve transparecer esse estado. O facto de estar angustiado não lhe retirará o discernimento suficiente para te poder apoiar, isto se for realmente um bom profissional. Quem diz um psicólogo, diz um médico, uma enfermeira...Quantas vezes estes profissionais não estão a viver verdadeiros dramas pessoais mas assim mesmo não deixam de dar o seu apoio ao próximo...
    Aliás, é da sua experiência de sofrimento que podem entender melhor a dos outros...aí reside a sua humanidade.

    Grande abraço

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