sexta-feira, 5 de março de 2010

Os testes projectivos - o Rorschach (I)



Dando seguimento às matérias anteriores sobre o exame psicológico e a anmnese, gostaria de vos deixar aqui, algumas impressões, sobre os testes utilizados mais vulgarmente em Psicologia Clínica, destacando as técnicas projectivas, utilizadas pelos psicólogos como coadjuvantes da Entrevista Clínica, que não é mais do que uma súmula de todos os aspectos relevantes que ele foi capaz de recolher do sujeito, quer através da observação quer através de atenta escuta.

Os testes projectivos baseiam-se num mecanismo psicológico denominado “projecção”. Parte-se do princípio que todos nós, perante um desenho, uma mancha, um borrão, temos algo a dizer sobre ele, isto é, interpretamos o material dado, conforme a nossa estrutura psicológica. Estamos, com esse movimento, a projectar-nos, a dar indicações preciosas ao psicólogo sobre a nossa estrutura da personalidade; personalidade que deve ser vista como uma unidade integrativa.

Um dos testes projectivos mais utilizados na clínica é sem dúvida o teste de Rorschach, psiquiatra suíço que o desenvolveu e aplicou em centenas de sujeitos. O teste consiste em dar possíveis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta simétricas em que a partir das respostas obtidas é possível obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo; não esqueçamos porém, que as qualidades psicológicas do testador têm importância nos resultados. Em suma, o processo de resposta produz-se num contexto em que a interacção e a intersubjectividade estão sempre presentes.

Quando utilizamos o conceito “projecção” ele surge sempre associado à percepção. O estímulo externo é a mancha que tem características perceptivas precisas mas ambíguas. Estas características vão obrigar o sujeito a estabelecer um conjunto de estratégias onde a percepção ocupa um lugar central. Na presença do cartão, o sujeito movimenta-se entre o real e o imaginário, entre o objectivo e o subjectivo.

Os dez cartões da prova de Rorschach, têm características singulares no campo perceptivo, pelo seu carácter unitário ou disperso, sendo susceptíveis de uma criação simbólica centrada em dois eixos: a representação de si e a representação da relação. É justamente pela forma como o sujeito organiza a história em torno das manchas impressas nos cartões, que ele revela a sua problemática fundamental. Percepção e projecção surgem então muito relacionadas, participando na delimitação do MUNDO EXTERNO e INTERNO do sujeito e na sua REPRESENTAÇÃO.

O processo projectivo leva a que só sejam investidas pelo sujeito certas excitações que reactivam traços mnésicos individuais; há uma selecção de estímulos que são integrados no seu sistema pessoal.

Cada um de nós filtra a realidade diferentemente e fá-lo de acordo com motivações pessoais. É a realidade externa, aquilo que percebemos, que vem reactivar os traços mnésicos que referi acima, dando lugar posteriormente ao respectivo movimento projectivo. O sujeito tem que mobilizar-se para ordenar as percepções externas e internas. É possível que o psicólogo assista a oscilações, movimentos subtis entre a percepção e a projecção; há como que uma negociação entre o dentro e o fora. O produto expresso pelo sujeito mostra igualmente uma ressonância fantasmática. A realidade externa, colorida com essa ressonância fantasmática gera um equilíbrio entre o dentro e o fora.

É através do estímulo (cartão) que o sujeito mergulha do processo primário para o processo secundário (o pensamento através da palavra), sendo que o imaginário é aqui extremamente importante. No teste é dito ao sujeito que não existem respostas certas nem erradas e que tem toda a liberdade quanto ao número de respostas a dar (normalmente dá duas respostas). Essas respostas tem um suporte perceptivo, mas espera-se que o sujeito as enriqueça com a sua capacidade de sonhar de imaginar, de ser criativo.

A cotação do teste é um processo um pouco moroso, obedecendo a algumas regras, (que dada a sua complexidade não vou aqui referir) que não podem deixar de ser consideradas, de forma a que a subjectividade do psicólogo, possa, na medida do possível, não interferir significativamente no diagnóstico.

* A imagem associada não representa um cartão do teste de Rorschach

Fernando Barnabé

4 comentários:

  1. Ola Fernando,

    Ha alguns anos atras ja realizei este teste :-)
    Lembro-me desse dia e do dia em que recebi o relatorio da psicologa.... ate me arrepiei com os resultados, como e que com uma simples mancha de tinta se consegue descobrir tanta coisa acerca dessa pessoa,engracado... ha uns dias atras descobri esse relatorio e tive curiosade em rever os resultados, olha vou-te dar um exemplo (3r+(2)/R=0,60; MOR=2) isto diz-te alguma coisa?? ainda ha mais eheheh

    Beijocas
    bom fim de semana

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  2. Fernando, votos de um óptimo fim de semana.

    Abraço

    Norberto

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  3. Olá Dreams,

    Como vais?
    Esses resultados dizem-me alguma coisa claro:-)
    Na verdade basta estar atento ao modo como as pessoas se projectam nas dez manchas para percebermos como funcionam psicologicamente... Parece uma bricadeira de crianças, mas na verdade é algo muito sério...

    Beijos e bom fim de semana!

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  4. Olá Norberto,
    Obrigado por passares por aqui...
    Um bom fim de semana também para ti.

    Um excelente fim de semana!
    Abraço
    FB

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