segunda-feira, 8 de março de 2010

Ainda o teste de Rorschach…



No post anterior, aquando da abordagem ao teste de Rorschach, referi que os métodos projectivos utilizados em Psicologia, têm como finalidade, apreender a realidade psicológica do sujeito, isto é o modo como ele vive e como se pensa.

Mas penso ser oportuno considerar aqui, as questões relativas à objectividade/subjectividade quando, como profissionais, utilizamos determinados testes.

Sabemos que psicólogos há, que rejeitam as técnicas projectivas por considerarem que estas não são objectivas e, como tal, utilizam as técnicas psicométricas. No entanto podemos afirmar que a pessoa sujeita a estas testes, como que desaparecem por detrás da quantificação, quer dizer, são reduzidas a um número. Dou-vos um exemplo; será importante e determinante que um determinado sujeito obtenha um resultado óptimo num teste de memória se o indivíduo utiliza essa sua competência de uma forma defensiva?

A psicometria está relacionada com os instrumentos de medida objectiva. A subjectividade, por seu lado, é baseada na intuição e, por vezes, com desprezo pelas técnicas objectivas, o que também é condenável.

A intuição é um dom fundamental, que emana do inconsciente, mas não nos podemos focalizar apenas na intuição, devemos ter também em consideração os métodos objectivos, e, para que nos possamos orientar correctamente, devemos ter uma teoria, um modelo que sustente o nosso pensamento e uma metodologia e instrumentos compatíveis entre si. Não é possível termos como modelo uma teoria psicanalítica e trabalharmos com uma metodologia comportamentalista.

A verdadeira objectividade, não existe por si só, existem sim, indicadores. Toda a realidade externa é investida à luz da nossa própria história e é aqui que se insere as técnicas de Rorschach.

A subjectividade baseia-se na interpretação e corre o risco de se arrastar por movimentos projectivos por parte do analista. A interpretação tem pois, que ser sustentada por provas, sob pena de o sujeito se tornar uma “colónia do nosso pensamento”.

O trabalho psicológico está muito enraizado na experiência psicopatológica; há uma grande necessidade de concluir e de apresentar resultados a todo o custo à luz da Psicopatologia, mesmo por vezes não percebendo em profundidade um determinado caso. Isto é deontologicamente incorrecto; nestes casos devemos, quando dúvidas existem, recorrer a colegas, a fim de podermos confrontar ideias e aclararmos o que à partida se nos afigura pouco revelador.

É pois importante perceber no Rorschach, o encadeamento das respostas do paciente, saber quais são os seus processos de pensamento, as associações que em regra utiliza; as respostas a estas questões é que nos leva a conhecer o sujeito e a procurar a sua individualidade.

Examinar as modalidades dominantes da personalidade do sujeito numa perspectiva de adaptação à realidade externa, é pois, uma função determinante do analista que deve estar despido de pré-conceitos, a fim de não incorrer em julgamentos prévios.

Devemos perspectivar-nos no sentido do “não saber”, para que não confirmemos uma ideia pré-estabelecida.

Não podemos deixar que a “colonização do sujeito” alimente a omnipotência do analista. É que uma espécie de novo riquismo intelectual pode tornar perigosa toda e qualquer interpretação.

Fernando Barnabé

Sem comentários:

Enviar um comentário