A ansiedade tem uma função adaptativa. Quando estamos perante um novo desafio, quando entramos pela primeira vez na escola, quando vamos a uma entrevista para um emprego, quando temos que falar em público, experimentamos alguma ansiedade. Ela tem, como dizia uma função adaptativa porque nos capacita a mobilizar recursos cognitivos (a linguagem, a percepção, a memória, a atenção) e fisiológicos, através da activação de determinadas glândulas, e do nosso sistema nervoso autónomo.
Desta forma, podemos dar respostas mais ou menos adaptadas às solicitações do quotidiano. No entanto, quando estamos expostos durante longos períodos de tempo a emoções negativas, geradoras de ansiedade, de medo, de raiva ou de tristeza, mobilizamos com maior frequência os nossos recursos cognitivos e fisiológicos e, como consequência, as suas funções tendem a ficar comprometidas. Gera-se uma maior excitabilidade e as respostas aos estímulos tornam-se muito menos eficazes e até mesmo desadaptativas.
Podem então surgir reações psicofisiológicas, ou psicossomáticas, resultantes de uma prolongada exposição da pessoa a situações geradoras de ansiedade.
As fobias estão classificadas como perturbações de ansiedade conforme expressa o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV)
A palavra fobia, deriva do grego phobos, deusa grega do medo, e significa terror, pânico. A imagem da deusa era utilizada até pelos guerreiros nas suas armas, a fim de aterrorizar os inimigos, tal era a sua fealdade. A fobia é caracterizada por um medo irracional face a um objecto específico ou situação que objectivamente não apresenta qualquer perigo.
A pessoa com esta perturbação tem consciência que o seu medo é irracional e que as emoções que o estímulo fóbico despoleta são em regra exageradas.
Como o estímulo desencadeia reacções desagradáveis para a pessoa ela tenta utilizar um mecanismo de defesa que lhe parece mais apropriado - o evitamento.
Evitar as situações geradoras de ansiedade, podem no entanto, limitar consideravelmente a nossa rotina diária. A pessoa, sente-se em regra impotente para controlar a ansiedade, podendo recorrer, nalguns casos, à utilização excessiva de álcool, tabaco ou de outras substâncias nocivas para a saúde. No entanto, pessoas há, que tentam negar a sua ansiedade apresentando atitudes e comportamentos contra-fóbicos, como por exemplo, alguns amantes dos desportos radicais.
Outras regozigam-se, porque escondem com alguma eficácia as suas emoções, mas estas apresentam, em regra, uma grande excitabilidade psicofisiológica, podendo com o tempo, comprometê-la seriamente.
Na agorafobia - medo irracional de espaços abertos dos quais a pessoa pode não vir a escapar, sobretudo se não encontrar ninguém que a possa ajudar no caso de um ataque de pânico, o comportamento mais comum, passa por evitar esses lugares, ou enfrentá-los com alguma dificuldade quando acompanhados por alguém da sua confiança que possa conter a sua ansiedade.
Na fobia social, o indivíduo sente um medo irracional face ao contacto com outras pessoas. A ansiedade gerada por ter que falar em público é enorme, por medo do rídiculo ou por medo de ser escrutinada. Saber que os outros podem eventualmente perceber o seu estado de ansiedade, faz com que evitem comer em restaurantes ou frequentar outros locais públicos.
Assim, evitam falar com desconhecidos e apresentam até dificuldades nas suas relações
afectivas, por consequência tendem ao isolamento, limitando desse modo a expressão dos seus afectos e emoções. Normalmente a auto estima e a auto confiança destas pessoas é baixa.
Em regra as pessoas com Personalidade Evitante têm maior probabilidade de vir a sofrer desta perturbação.
Nas fobias específicas o medo é canalizado para objectos, animais ou situações específicas indutores de ansiedade, como por exemplo os elevadores, as cobras, os ratos, o sangue, as agulhas, as alturas, etc. Pensar nestas situações pode ser suficiente para que seja despoletado um ataque de pânico.
Os ataques de pânico são episódios que têm uma duração de 20 a 30 minutos, por vezes um pouco mais, são acompanhados por pensamentos de catástrofe eminente, de morte, com reacções somáticas clinicamente significativas: ansiedade excessiva, estado confusional, taquicardia, sensação de opressão no peito, sedurese, boca seca, formigeiros, parestesias. A pessoa pode até pensar que vai ficar louca ou que algo não está bem consigo a nível orgânico.
Os ataques de pânico podem ser expontâneos, não dependendo portanto, de nenhum estímulo ansiogénico; podem ser situacionais, quando a pessoa está exposta a um estímulo fóbico, ou situacionalmente prováveis, quando a pessoa com algum sofrimento enfrenta um estímulo fóbico, surgindo o ataque de pânico à posteriori.
A ocorrência e a frequência dos ataques de pânico é variável. Há pessoas que podem ter vários ataques por dia, e só voltarem a ter passado um mês. Outras têm um ou mais ataques por semana.
É inevitável que a pessoa com fobia e ataque de pânico esteja quase permanentemente preocupada com o próximo ataque, daí que, se essa preocupação se manifestar durante pelo menos um mês, ela vai constituir uma perturbação de pânico.
AS CAUSAS
Até meados do século XX, pensava-se que as causas desta perturbação eram apenas psicológicas, devido a conflitos intrapsíquicos não resolvidos, sobretudo na infância, hoje está provado, através de estudos efectuados, que uma maior produção de substâncias neuroquímicas existentes no cérebro, como a serotonina e a dopamina podem provocar perturbações de ansiedade. Estudos comprovaram ainda que existem factores hereditários em jogo.
Os familiares biológicos em primeiro grau de pessoas com fobia ou perturbação de pânico têm maior probabilidade de contrair a perturbação. Estudos com gémeos também evidenciaram esses factores hereditários.
O TRATAMENTO
Podem utilizar-se os inibidores selectivos de recaptação da serotonina e os inibidores da enzima monoaminooxidase (IMAO) e alguns tipos de terapia, como a terapia Cognitivo-Comportamental que incide sobretudo sobre o sintoma e a sua remissão e as terapias de base psicodinâmica, que incidem sobre as causas, estas, no entanto, podem ser mais morosas.
A terapia comportamental utiliza a técnica denominada dessensibilização sistemática. Depois da aprendizagem de algumas técnicas de relaxamento, o paciente é exposto a estímulos ansiogénicos de forma gradativa, o paciente vai relatando ao terapeuta o que está a sentir à medida que os estímulos lhe são apresentados (normalmente utilizam-se diapositivos).
Quando a ansiedade produz mau estar significativo, o paciente informa o terapeuta levantando por exemplo o braço e este suprime a exposição e volta às técnicas de relaxamento. O processo vai decorrendo até que a ansiedade seja suprimida ou possa ser gerida com alguma eficácia pelo paciente.
As técnicas de biofeedback, são também utilizadas. Neste caso, existem instrumentos que permitem a monitorização pelo terapeuta, quer do ritmo cardíaco, quer de doutras funções fisiológicas.
FB